- Não sei.
- Tudo bem. Só quero ver como tu escreves.
- Para quê?
- Para poder sonhar que todas as tuas palavras são minhas.
- Justo. Já sei como tu desenhas.
- Mas tu nunca vistes...
- Nunca. E, ainda assim, sonho que todos os traços dos teus desenhos – tem a minha forma.
Se ao menos tu soubesses como é que meu coração fica quando recebe um sinal teu... Ah! Tu me davas uma chance! Uma única chance para lhe mostrar o que anda se passando dentro de mim. – Eu já não entendo bem o que acontece com meu corpo: arrepia, perde o fôlego, sente cócegas na barriga, sorri, suspira... Das vezes, entro em êxtase total, sumo de mim. Não me reconheço. E, só hoje, fui descobrir – que a culpa é tua.
Culpado, – porque me tratas com o carinho e a atenção que eu sempre sonhei. Culpado, – porque tu ficas acariciando meu cabelo e falando-me ao pé do ouvido o quanto gosta do meu perfume doce. Culpado, – porque tu passas as tuas mãos sobre a minha pele como se estivesse me desenhando. Culpado, – porque, ao teu lado, desconheço o frio, a fome, o cansaço e a sede. Culpado – porque, ao teu lado, sou Eu, – e não há mais ninguém dentro de mim. E o engraçado é que, Eu – só quero me tornar teu corpo quando ficas, assim, ao meu lado.
E então, ninguém mais entenderia as voltas que meu coração deu, até lhe encontrar. Pois quando meu coração lhe encontrou, de certa forma, – ele se descobriu. Dizem por aí que, todo amor preenche um pedaço de nossos corações. Sinto-me preenchida não somente por um pedaço, mas por todo ele. Por todo meu ser.
Sonhei, por anos, em me apaixonar por um médico, piloto, professor, poeta, músico... Mas, um desenhista? Não. Nunca. Não és nada do que eu sonhei. Tu não és o genro que minha mãe pediu à Deus, e definitivamente, meu pai não irá gostar de ti... Mas eu gostei.
Apaixonei-me, desde a primeira vez que olhei tua barba mal-feita, teu cabelo despenteado, tuas roupas engraçadas, tua tatuagem esquisita e teu sorriso de criança. Apaixonei-me, desde a primeira vez que me olhaste e desenhaste meu rosto. Tu te lembras? Tenho guardado o teu desenho.
Tenho guardado também o papel onde desenhaste nossa casa, nossos filhos, nosso cachorro e a árvore frutífera de pitangueira do quintal. Tenho guardado o teu nascer do sol, onde escreveste: “Aqui, – nasceu o teu sorriso”.
Tenho guardado num porta-retrato, o desenho dos meus olhos, que brilham a tua imagem. E tenho guardado, na memória, tuas palavras ao dar-me de presente: “Me dão medo... Teus olhos... Amedrontam-me”. E tu sorrias, depois dizias que, tu estavas me dando olhos novos num papel, porque nasci com grau altíssimo de miopia. (...)
E tu tinhas razão.
O dia em que desenhou meus olhos num papel e deste-me de presente, devolveu-me a visão. Pois foi neste exato momento que olhei em teus olhos e soube qual era a única coisa que eu poderia enxergar, a única coisa que eu não poderia viver sem ter visto, qual era a única coisa que todas as pessoas do mundo deveriam ver: – era o amor, é só o amor. E – para mim – como para mais ninguém, O [teu] amor.
Desenhista... Eu já lhe disse: sou escritora de palavras simples. Enquanto, teus desenhos, são ricos em detalhes. Posso viajar nos teus sonhos impressos de tinta, e tu podes descobrir meus segredos impressos em palavras. E será muito fácil para nós dois. Porque a felicidade é algo simples. É simples, fácil, possível, – ser feliz. E tenho em mim, todas as vezes que, olho os teus desenhos – que tu sabes bem do que eu falo. Falo de amor, nada mais.
E agora que já conheces o meu corpo, que já viste como eu escrevo, que já olhaste em meus olhos sem algum disfarce. Tu poderás descobrir o que eu sinto.
Acredita: o amor é fácil, a felicidade é simples, e eu estarei aqui amanhã. Porque agora, eu sei, aqui – ao teu lado, é o meu lugar. Já posso encostar a cabeça em teu ombro? Estou com sono. (...)
3 comentários:
Vc escreve com muita sensibilidade Gabi, belíssimo texto!
beijo
Um desenha, o outro escreve. Os dois sonham.
Olha que lindo como a gente fica quando está amando!
Gabi, você é linda demais, pelas palavras dá pra sentir...
Beijinhos no seu coração
Aproveita que a culpa não é sua!
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