“Fitou-me cuidadosamente e proferiu: “Rapaz, rapaz. Mente vazia é oficina da tentação. O homem que não trabalha, não se cria, continua sendo menino. O tempo livre quando nos é muito, nos atormenta em ciúmes, em vaidades, em luxúrias. É necessário muito caráter e força para resistir as tentações quando não ocupamos a nossa mente. Ocupa-se. Trabalhe muito. Trabalhe até sentir-se cansado. Nós, os velhos, sabemos que a mente que se mantém ocupada, padece com maior lentidão.”.”.
Uma das mais brilhantes coisas que já li, foram as 45 lições escritas por Regina Brett, publicada na coluna do The Plain Dealer, na celebração do seu 90º aniversário. É claro que foram as 45 enumerações que ela viveu, e muito provavelmente, quando atingir esta idade, faça uma lista diferente. No entanto, o que me fascina em suas preleções é um item polêmico: “pode ficar bravo com Deus. Ele supera isso”. Sim! Você pode! Você pode às vezes desconfiar da sua crença, seja lá como Deus for verdadeiramente em imagem e maneiras, Ele aguenta e entende.
O ser humano entende uma parcela da vida quando aceita que não é especial. Todos estamos sujeitos ao sofrimento e são justamente essas fases de difícil superação que nos faz sermos quem somos. Temos que passar essa etapa de perder tudo, inclusive a fé, para nos reerguermos. Temos que desafiar ao máximo a nossa força para podermos compreender que, sim, tudo passará. São poucas as frases mais inteligentes do que “nada é para sempre”. Porque nada, nem o nosso corpo, dura intacto e perfeito durante toda a vida, e, um dia, ele perde o que chamamos de vida.
Quando tudo desaba, nós caímos na tentação de nos questionarmos: “Por que isso aconteceu comigo?”. Por quê, se eu sempre fui tão honesto, se não faço mal a ninguém, se vou a igreja todos os domingos pela manhã? Não há motivos. Temos que aprender a aceitar a maneira com que as nossas vidas caminham. Se procurarmos por aí, há uma imensidão de pessoas que também perderam filhos, casas, sofreram enfermidades, e, continuam sendo pessoas boas, integras e que não eram merecedoras de tanto sofrimento. Repito: Não somos especiais, todos estamos sujeitos aos acontecimentos trágicos e só entenderemos uma parcela da vida quando aceitarmos isso e conseguirmos continuar [sobre]vivendo.
Meu pai, homem de tremenda e admirável força, que me criou para tomar decisões importantes e sentar à mesa dos negócios para intermediar qualquer trabalho como uma grande negociação, disse-me, certa vez, que nós devemos impor um prazo para a nossa recuperação após uma queda. 48 horas. “Tu tens 48 horas para sofrer, depois disso tens que respirar fundo, levantar a cabeça e se reconstruir. São 48 horas porque tu és jovens, para mim, me dou oito.”.
Foi meu pai que me ensinou a não remoer o passado, a não ficar me perguntando os motivos, mas a aprender como o tempo é urgente. Não existe destinos, não haverá “deixa ser o que for”, quando nos dermos conta, a vida já foi, as pessoas já foram, e, nós, continuamos aqui. Não se pode esperar que o tempo arrume a bagunça e coloque as coisas no lugar, somos nós que comandamos a nossa vida. A única coisa que podemos fazer é tomar uma atitude nesse momento para que aquela pessoa fique, aquele trabalho dê certo, aquele livro seja lido.
Nem a Bíblia nos promete destinos, quem dirá livros de auto ajuda. Ah! A Sagrada Bíblia! O livro mais importante já escrito, você acreditando nele, ou, mesmo tendo fé de que foi a invenção para controlar toda a humanidade, para nos colocar medo. Encontro pessoas por aí que se dizem ateus e nunca abriram o livro sagrado. Se não conheces, como não acreditas? É talvez a maior ignorância do ser humano não acreditar em algo, mesmo que as crenças sejam distintas, é importante ter fé para sobreviver.
É importante acreditar que o que eu faço hoje é reflexo do amanhã. São esses ditados, essas balelas que todos falam, que devem ser analisadas. Por exemplo, “eu não me arrependo de nada”. Se não te arrependes, então tu nunca erras? O não errar é um grande erro. Todos erramos. E apenas quando há o arrependimento é que há o aprendizado. O erro é válido, meu amigo. Arrepender-se é mais.
Me arrependo de não ter aproveitado mais aquele amigo que hoje faz tanta falta, de ter sido tão dura com as pessoas e comigo mesma, de me preocupar severamente se iria decepcionar aos outros e, assim, decepcionar a mim mesma. São com esses tapas na cara que estou aprendendo a ser mais leve, a domar minhas vontades e a fazê-las, a respeitar ao outro e a mim. Porque o egoísmo demasiado é horrível, mas a falta dele é intolerável. – Sem esperas, sem destinos, errando... amando... sobreviva!
Porque, talvez, aquela velha opinião não fosse tão errada assim...