“Atravessar a sala de aula para chegar a carteira do menino era o maior desafio de sua vida. O caderno era rabiscado com corações e o nome do amado.
Olhava-se no espelho e sentira-se deslocada do mundo em qual vivera. A menina era romântica e tivera sonhos, escrevera num diário e não era a mais bonita da classe. E, em seus dez anos de vida, o que mais desejara era declarar o amor que ela sentira.
O amor guardado a sete chaves, que vivera ameaçado pelo medo do “não” e pela possibilidade de perdê-lo.”
No meio da aula a memória o traz e, de repente, estou sorrindo. Tenho vontade de estar com ele, abraçá-lo, chamá-lo para tomar sorvete, dar as mãos... Seu sorriso me traz paz. Sua maneira de tratar-me me faz feliz. Seu jeito de menino se tornando homem, me encanta. Sua fé e seu jeito de encarar a vida me trazem coragem. É simples, muito simples. Mas eu sou apenas a sua amiga.
Torcemos pelo mesmo time; temos as mesmas opiniões, mas discutimos às vezes. Ele é sincero comigo, já tentou me dar conselhos e vejo que se eu precisasse de algo, ele estaria ao meu lado. Achamos engraçado o pontinho verde no canto da sala e eu adoro vê-lo sorrir. Sinto que ele não me suporta algumas vezes, mas tudo bem, porque algumas vezes também fico magoada com suas faltas.
Vejo muito de mim nele. Percebo que assim como eu, ele também está perdido. Porém, toda aquela vontade de continuar... ah!... toda aquela vontade de continuar me traz esperança. Por muitas vezes, pedi a Deus que me trouxesse um sopro de vida e, agora, todas as vezes que assisto aqueles olhos brilhando posso enxergar todos os motivos de estar aqui.
Minha escrita anda lenta. Tenho medo de que descubram tudo o que ando guardando aqui... Tenho medo de que descubram como as coisas andam quebradas... É tão estranha a maneira com que a vida me colocou de frente a ele. Seria errado um romance com alguém que deveria ser apenas meu amigo. Alguém que não conhece nem a nossa amizade. Alguém tão lindo que, eu não poderia machucar.
Sinto ciúmes, tenho medo de perdê-lo, mas não me sinto no direito de demonstrar o que é que há. – “O que é que há?” – Há, não sei!, alguma espécie de magia. Uma sintonia entre duas almas, dois corpos, duas vidas. Há algo fraterno e bonito, sincero. Algo especial. Tão simples que eu nunca senti.
Não é algo que me tira o chão. É algo que me faz suspirar com doçura. É um carinho leve, um desejo sereno de dar as mãos, uma delicadeza em querer estar ao lado.
A amizade é o sentimento mais leal entre duas pessoas. Já diria o poeta: "é possível haver amizade sem amor, mas não se pode ter amor sem amizade.".
Todas as noites, eu paro e entrego à Ele o meu segredo. – “Meu Pai, se ele for meu, entregue-o para mim na hora certa.”. Porque se isso for amor, então eu saberei esperar.
Eu havia prometido a mim mesma que as pessoas deveriam gostar de mim pelo o que eu sou, sem cautelas e sem conquistas. E agora tenho vergonha de parecer boba ou desesperada. Deve ser – o começo exige mesmo essas borboletas no estômago, não é?
Sei que eu sempre preguei que devemos correr atrás daquilo que nós almejamos. No entanto, o meu maior medo não está na possibilidade de que me esnobe. Eu temo a mim mesma. A maneira com que me conheço e sei que este sentimento pode não ser. Por isso, as mãos Dele são necessárias. Deus precisa curá-lo de mim e precisa protegê-lo das minhas defesas.
Deus, faça-o feliz, porque ele é lindo. E, se puder, faça-me amá-lo, porque eu gostaria de ser o motivo daquele sorriso. – Ah! Aquele sorriso...