Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

quarta-feira, outubro 26, 2011

A.



"Não disse alguém que o homem escreve para matar a morte?"


[ Mistério a Bordo em Para Viver Um Grande Amor, Vinicius de Moraes ]

O LIVRO PELA METADE

– Preciso reorganizar essa vida.
– Mas há ordem nessa vida?

Aos passos, primeiro quero concretizar o que há de verdadeiro. Aquilo que, não se concretiza, não tem porque fazer parte dessa vida. Pós isso, quero repor pensamentos. Ando por demais jogada aos vazios e, mesmo que pense, pareço não pensar. Depois de pensar é preciso agir. Não tomo mais decisões, não corro mais atrás, não quero saber, não saio do lugar. Vou precisar dar alguns passos, e aos poucos passos, vou andar algum caminho.


Ainda ontem, quando cheguei à metade do livro, parei de lê-lo. Aquele livro dividido era a minha vida. E talvez um livro dividido possa significar várias vidas.
Primeiro, pensei nesse coração que não sabe mais pelo que bate. Dividido ao meio, às vezes, dividido em vários e pequenos pedaços. Não sabe se começa o próximo capítulo, ou se fecha o livro ali mesmo. Anda com medo de sentir saudades dos capítulos anteriores e de, ao avançar, não querer mais ler o próximo capítulo. Não sabe se virar as páginas é boa escolha e não faz idéia se poderá trocar de livro. – Será que é mesmo tão fácil quanto metáfora? – Ler o próximo capítulo. Trocar de livro. – Deixar de amá-lo, amar quem parece vir. Ou não amar nenhum e começar nova história.
Segundo, pensei na vida que fica e na próxima que vem. Pensei nos sonhos que deixei e nos que terei. Pensei na família que fica e nas pessoas que virão. Pensei no medo em deixar a metade que já foi, e ler o resto que eu não sei o que é. Pensei nos parágrafos ruins que virão, nas felicidades fáceis de algumas palavras, na saudade que será descrita em muitas páginas... Quero fechá-lo, pensei.
Não quero mais este livro. Quero outro livro. Sei lá! Um livro em páginas brancas, sem palavras, daí eu escrevo como bem quero eu... Bom se a vida fosse assim. Bom, se, a, vida, fosse, assim: A gente que a escreve, sem esquecer nada, e elimina as tristezas.
Terceiro, pensei na vida das outras pessoas. Como livros pela metade. Percebi que cada dia de nossas vidas são como livros ao meio. Tu tens a chance de deixar o passado, e continuar um novo capítulo. Podes virar as páginas. E, além disso, tu podes trocar de livro. Fazer nova história. Mudar de vida. É como abandonar as roupas velhas e trocar de cidade. É como mudar de nome. Ou, como mudar de amor. Temos a chance de escolher todos os dias. – Mas não é humano quem escolhe com certeza deixar o capítulo que passou.
Poetas talvez vivam esse impasse de saber e não saber ao mesmo tempo. Eu, que não sou poeta, vivo este livro dividido. Esse coração que busca coisas verdadeiras e palavras novas. Essas lágrimas que cansaram de cair. Essa vida que deixou de trazer. Essa esperança que, o próximo capítulo, vai me fazer sorrir. E essa saudade que fica, que em noites atormenta, que em dia se acalma, e que o coração guarda. Porque o coração é: – os capítulos que nós já lemos...
A única diferença que há entre o livro pela metade e a vida, é que, a gente pode voltar algumas folhas do livro, e da vida não. – Se a vida lhe possibilita a escolha de ler o próximo capítulo ou trocar de livro. Reorganize os pensamentos. A ordem agora aqui é – [re] organizar.
Coração tranqüilo, alma limpa, e braços abertos para o que vier.

Letitbe.

XAVIER SABE

Não sei se já publiquei isso, mas todas as vezes que me sinto triste, que algo está errado, que a vida me lembra solidão. Eu costumo ler mensagens de esperança que copiei em um caderninho que guardo na gaveta da penteadeira do meu quarto. E, normalmente, há muito Chico Xavier ali.


"Que Deus não permita que eu perca o romantismo, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.
Que eu não perca o otimismo, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.
Que eu não perca a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...
Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas...
Que eu não perca a vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.
Que eu não perca o equilíbrio, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia.
Que eu não perca a vontade de amar, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o mesmo sentimento por mim...
Que eu não perca a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo, escurecerão meus olhos...
Que eu não perca a garra, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.
Que eu não perca a razão, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas.
Que eu não perca o sentimento de justiça, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.
Que eu não perca o meu forte abraço, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...
Que eu não perca a beleza e a alegria de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca o amor por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia.
Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado.
Que eu não perca a vontade de ser grande, mesmo sabendo que o mundo é pequeno.

E acima de tudo, que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente. Que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa. Pois, a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!"

[ CHICO XAVIER ]

segunda-feira, outubro 24, 2011

G.


"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê!"

— Florbela Espanca

OS GRITOS DE UMA VIDA


“Amor” é uma palavra tão incerta que fico atordoada todas as vezes que tento dar significados à ela. Não há um significado certo para o amor e tenho que me convencer disso. Não há amores iguais, cada um ama da sua maneira. Então definir uma coisa tão efêmera é como colocar fim naquilo que se renova.
Eu talvez procurasse muitos significados para o amor. Não. Talvez não. Eu procurara muitos significados para o amor. É que quando estamos solitários ou quando sofremos, achamos que o amor é algo matemático. Como se houvesse um motivo para tudo o que acontece. Como se os erros passados fossem óbvios e como se logo eu encontraria alguém que fosse da mesma matéria que a minha. Às vezes, estudei o amor como se estudasse Física.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas que, por mais que eu viva a escrevendo, ela continua a me surpreender. Ela joga pequenos pedaços de cores em meu retrato preto e branco e faz de mim uma estátua com rachaduras. Quebro-me ao meio todas as vezes que dou de cara com a vida e ela me apresenta realidades fortes sobre o amor: “Se quer motivos para amar, não ame.”.
Se quer motivos para amar, não ame, – , foi o que a vida me disse quando encontrei o homem que seria o homem da minha vida. Minha história é um pouco triste, dramaturga, faz papel convicto aos choros de teatros e longametragens. – Talvez vocês não saibam, mas vocês não me conhecem. (...)

Eu tinha quinze anos quando uma louca paixão invadiu meu peito. Paixão daquelas bem ardentes. Aquelas que tiram nossos pés do chão e nos fazem gritar de desejo. Gritar literalmente, na cama, no carro, na piscina e nos lugares mais improváveis onde se pode colocar esta paixão para fora. Porque sim. Paixão é sexo. Sexo puro, longo, desregrado e ardente. Sexo que faz a gente ficar dias sem comer. Ou sexo que faz a gente ficar lembrando, por vários dias, aquelas coisinhas nojentas que acontecem na hora. – É! – Sexo é paixão.
Acontece que quando estamos apaixonados e terrivelmente encantados por essa paixão, nós a confundimos com amor. E isso acontece por mais vezes com as mulheres. Ou com as meninas. É que não acredito que as mulheres cresçam. Mulher é um termo forte. Mulher tem que passar batom vermelho e vestir salto alto todos os dias, sair gritando com o mecânico e ser uma perfeita profissional feminista. Mas toda mulher é menina. Porque a gente finge, mas aqui dentro é cheio de solidão. A gente implora por carinho, atenção e proteção, enquanto rejeitamos a ligação do bonitão do quarto andar que só quer sexo. É que a mulher é dependente do amor. Até aquelas mais saidinhas que conquistaram a independência sexual e se dizem totalmente despreocupadas com as morais da sociedade, até elas, imploram por amor. – Porque o amor move o mundo. – E até os homens, mil vezes mais orgulhosos, charmosos , fortes e solitários, querem amor. Eles se fazem de Don Juan, enganam as mais bobas, passam uma noite com uma e outra com outra, mas é por amor que eles esperam também.
Então, aos quinze, eu esperara por amor. E qualquer palpitação que o coração sofrera, eu arriscara pensar que era o bendito chegando. E foi numa dessas, que meu coração estremeceu feito um sismo, e eu me apaixonei. Achei que fosse amor, não era. Me entreguei. Me entreguei cegamente do jeito que a paixão pede. Abri as pernas, tocou meu corpo inteiro, gritei como louca, – me apaixonei. Mas engravidei.
Sentia-me uma mulher todas as vezes que ele me tocara, mas me senti uma menina quando ele deixou uma pequena sementinha dentro de mim. E meninas são sensíveis, tolas, amedrontadas, cheias de dúvidas, incertezas e meias-verdades. Meninas nunca abandonam a luz acesa do corredor.
Uma criança era uma maneira meio rápida de me tornar mulher. Ou, mais sensato dizer, pôr a parte mulher para fora e guardar a menininha chata dentro de mim. – Foi o que fiz. – Enfrentei a família, o padre, os professores e colegas de sala de aula, a vizinha fofoqueira... Decidi ter aquela criança. Fui fundo na minha decisão e não dei o braço a torcer nem quando, nem quando, nem quando... Quando enfrentei o abandono dele. Por mais que não fosse amor, mulheres que são meninas, grávidas, precisam da proteção dos papais de primeira viagem. Mas ele se foi. Teve medo, não quis, pediu que eu abortasse, não o culpo. É bem nessas horas que as mulheres-meninas se mostram mais fortes e decididas que os homens. É nessas horas que a gente mostra que nossas caras são feito de pedra e pode vir o super-homem, bater, esmurrar, jogar o raio laser dele que, a gente não quebra.
Oito meses e algumas semanas com aquela pequena sementinha irritante dentro de mim. Enjôos, chutes na barriga, barriga virando um globo, espinhas, vontade de ir todas as horas ao banheiro, acordar no meio da noite para ir ao banheiro, sentir a pestinha se remexer dentro de mim, pedir pelo Amor de Deus que a tirasse logo dali. E, o parto, cansativo, dolorido, outra vez em que gritei loucamente por ela, só que dessa vez ao invés de entrar, ela saiu. E nasceu linda,gordinha, chorando, e eu detestara choro de bebê. Mas a amara. Amara ela como minha mãe me amou. Sentia ternura naqueles olhinhos de boneca e encanto em suas miniaturas de mãos.
Eu descobrira que o amor era aquilo: sacrificar-se. Tomar uma decisão e lutar contra o mundo para que aquela sementinha frágil que é o amor, semeie e dê frutos. Quando minha filha nasceu, eu soube entender o que era amor.
Mas, em poucos dias, tiraram isso de mim. A notícia veio cedo. Acordei, escutei uma confusão no corredor do hospital, um vai e vem de enfermeiros, e eu soube. Mãe sente. Mulher e seu sexto-sentido sente. – Era ela. – Aconteceu algo com ela.
O Doutor Fausto foi quem teve a coragem de me dar a notícia. E ouvir meus gritos de desespero e dor. Como? Como poderia? Como alguém poderia fazer aquilo com ela e comigo?
– "Nós estamos fazendo tudo o que é possível. Isso nunca havia acontecido antes..."
Ah, Doutor Fausto! Eu não me preocupara com os culpados. Eu só quisera minha filha. “O Senhor tem certeza de que o bebê que roubaram é o meu?”. Poderia ser de outra pessoa. “Eu posso ir lá no berçário ver?”. Talvez eles tivessem se enganado. Talvez eu pudesse pegar qualquer outro bebê e fazer de conta que era o meu. Bebês são todos iguais mesmo. Não iria fazer diferença... Engano. Nenhum daqueles bebês tinham os olhos ternos da minha Maria Lizzie. Nenhum tinha aquele choro irritante. E nenhum poderia preencher mais um vazio que se criara em meu peito.
Meu leite secara. A polícia me visitara com freqüência e, depois das minhas tias, que ficavam fofocando sobre a vida alheia com minha madrasta, era a única visita que eu recebera. Me aproximei de Deus, como se fosse um porto onde eu pudesse me esconder. Rezara todos os dias para que Maria Lizzie voltasse. Aprendi a bordar e bordei “Mariazinha” em sete toalhas de banho. Chorei. Perdi noites de sono. Quis roubar as crianças que eu encontrara nos carrinhos de supermercado esperando a “mamãe” (como a maioria chamara suas mães), mas nunca tive sangue frio. Olhara os moleques jogando bola na rua. E passara a freqüentar as aulas de ballet que a Senhorita Margarida dara para as menininhas ricas. Imaginara como Lizzie ficaria linda de cabelinho preso, saia rodada e sapatilhas rosa-bebê.
Vivi uma grande nostalgia, mas tive que seguir em frente. Seguir em frente é a grande lógica da vida. Qual eu tive que me habituar e dar passinhos pequenos e incertos, para poder andar alguns metros. Andei vários metros. Terminei a escola, fiz faculdade, tornei-me professora e vasculhara todos os orfanatos do estado atrás de alguma pista. Nada.
Cheguei a ir atrás do pai de Maria, que ficou triste e se sentiu culpado por tudo, que até tentou, e suspeito que, tentou muito encontrá-la. Mas assim como eu, sentiu-se fraco todas as vezes que o sol ia embora, e percebeu que as procuras eram em vão.
Aos vinte e oito anos, desistindo daquela vida, decidi mudar de estado. Encontrei um emprego e uma casinha no interior de um dos estados mais populosos do país. A cidadezinha do interior era tranqüila, bonita, cheiro de ar puro. Imaginei que Maria Lizzie iria gostar de crescer ali.
Alguns meses se passaram. E, um dia, assistindo a uma peça de teatro da escola do outro bairro. Esbarrei no pai de uma das alunas, peguei sem querer em sua mão, olhei seus olhos para me desculpar, e como nos filmes, me apaixonei.
Novos gritos de paixão. Nova vida. Sonhei em ter uma nova Maria Lizzie com Frederico. Sonhei em casar-me, dar-me à ele, esquecer todas as dores como se pudesse apagá-las com borracha. E viver uma vidinha doce, cheia de invernos, outonos, primaveras e alguns verões, ao lado do homem que seria o homem da minha vida.
Mas eu não soubera contar sobre o meu passado à ele. Algumas vezes, Frederico cobrou-me saber sobre minha vida, disse que eu era um mistério, e eu gostara daquele ar secreto que eu houvera deixado. Mas nunca soube abrir meu coração. Não que não o amasse. Eu só, embora meu jeito eufórico não aparente, nunca soube abrir feridas. Aprendi a desenhar palavras, mas falar sobre minha vida nunca foi-me fácil. A única coisa que contei sobre meus martírios, foi a morte de minha mãe, qual ainda menti algumas coisas à ele.
Muitas noites fui dormir pedindo à Deus que Frederico pudesse perdoar minhas mentiras. Ele teria que entender que quem escreve, vive fantasias, e a gente tem mesmo essa tendência de fantasiar que nossa vida é um sonho de felicidades e recomeços. Mas a verdade é fria, tão fria que, não cabe aos textos.
Mas se a vida é uma caixa de surpresas e ela deixa-me boquiaberta em todos os momentos em que ela se abre, toca a música e a bailarina dança. Se a vida é isso, ela não poderia tardar e trazer Maria aos meus braços, outra vez.
O homem que roubou meu bebê, era o homem que seria o homem de minha vida. A esposa morreu, e a filha que a mulher havia roubado do hospital para esconder a perda da outra criança, era a filha que cuidadosamente Frederico criara. Criara e soubera da notícia, pois foi cúmplice. O marido mais louco que a esposa, concordou em roubar um bebê, depois de muitas tentativas e perdas de seus filhos. – Fiquei imaginando quão é difícil ter uma sementinha na barriga, e ela não semear e dar frutos. Daí ter outra, e outra, e outra. E ver a cara do marido todas as vezes que iria buscá-la no hospital quando recebera alta da internação por aborto, por perda.
Mesmo me comovendo com as explicações e pedidos de desculpas, não era fácil perdoá-lo. Foram treze anos roubados de minha vida. Eu nunca soube o que era trocar fraldas, acordar com choro de criança, ensinar a andar, vê-la engatinhar feito um cachorrinho, deixá-la e buscá-la na escola, preparar as refeições, pentear os cabelos, amarrar os cadarços, ler uma história antes de dormir, receber o boletim com notas vermelhas, dar bronca porque não escovou os dentes... Nunca soube o que era aquilo que sempre me despertou saudades.
E, no entanto, eu amara o homem que me roubara aquilo. Eu amara o homem que me fizera sofrer. Como pode? Como é possível, depois de tanta dor, eu ainda amá-lo? Como é possível meu corpo desejá-lo? Como é que meus braços procuram conforto nos laços que os braços criam dentro dos abraços que ele me dá... O amor é tão cheio de contradições que, amar torna-se um fardo difícil de se carregar, e então a gente complica. A gente faz nós em laços e deixa de abrir os presentes. A gente esquece quanta gente já sofreu e não teve a oportunidade de amar como amamos. A gente fica achando que vai achar uma pessoa especial em qualquer esquina. E ficamos nos enchendo de orgulho, achando que ser forte, é fazer a outra pessoa sofrer e pagar por todos os erros... Engano. Ser forte é olhar o perdão como a forma mais bonita, é dar-se ao amor depois de tudo, é rejeitar a dor e o medo e viver uma nova vida.
Foi difícil, eu confesso. No começo eu achara que não iria conseguir. Eu tinha a idéia feita que amá-lo era errado. Achara que ele era uma pessoa ruim, e esquecera de todas as coisas boas que havia feito por mim. Porque a gente esquece das coisas boas, e lembra facilmente das coisas ruins. A gente esquece que as pessoas não são boas ou ruins, que elas têm atitudes, às vezes certas, às vezes erradas, e que perdoar é dever do humano e misericórdia de Deus. Se nós não podemos perdoar o erro do próximo, como perdoar os nossos erros?
Então, perdoar quem amamos tem que ser fácil. É o caminho para uma vida cheia de doçuras. É quase um “sim, eu aceito” na frente do Padre. É ainda mais que um compromisso, perdoar é amar verdadeiramente. E amar é segurar as mãos, sentir paixão, fazer muito sexo, ter filhos, criar e cuidar dos mesmos, dividir verdades, aceitar mentiras, respeitar os rejeitos, confiar na dúvida e sacrificar a novela por uma noite de amor... Várias noites. Com a mesma pessoa, aquela mesma pessoa que, lhe traz algo que completa os vazios e abismos que a vida nos dá.

Amar é amar. Então, ame! Grite.

Amar é o maior milagre que aconteceu em minha vida. Espero que Frederico saiba o milagre que ele é dentro de mim. Porque o amo, com ou sem pseudonomes, eu o amo com a minha vida. E para sempre.

quarta-feira, outubro 19, 2011

G.

A fé é como uma escada. Você pode subir, você pode descer.


"Mas como nesse terreno da vida o que vale é o que a gente planta nele, do nada, surge uma penca de girassóis e aponta um céu. Um céu de escolhas felizes e tão mais claras. Esses girassóis costumam chegar quando você menos espera. Mas você sabe o momento em que eles chegam pelo cheiro de carinho no ar. Cheiro de abraço de amigo, colo de mãe. Cheiro de bolo saindo do forno e passeio de domingo no parque. É nessas horas que você percebe que Deus não desiste nunca. E que ele sempre prepara surpresas risonhas pros nossos caminhos. Mas pra você recebê-las terá de ter um coração aberto e tranqüilo. Por isso, quando chegar a hora de dormir, não esqueça de acender a vela da fé, aquela que mora no coração e que acende a alma. A única vela que nos mostra o rumo.".


C. Carvalho

ALGUNS MARTÍR[E]OS

13/06/2011

– Quantas vezes você já perdeu algo ou alguém que lhe animava por momentos que não lhe trariam coisa alguma? Os preços que se pagam.

"Algo na morte me atrai e me assusta. O que me instiga são os finais, e não há final mais certo do que a morte. Se um personagem morre no final, sua história acaba. Caso contrário, ele segue uma vida. Uma vida que me atormenta.
Todos os dias os personagens que não tiveram fim me assombram, pedem para que eu escreva sobre e conte o que há. Eles querem que eu explique suas dúvidas e resolva seus problemas. – Mas não posso. – Palavras são apenas palavras. E escrevê-las é de mim, mas jogá-las fora é do mundo.".



Sei que escrevo e quem lê espera me encontrar ali. Não sei bem em quantas palavras estou, mas sei que em poucas me manifesto. Não tenho coragem. Escondo-me nas metáforas e mentiras. São as invenções de quem tem alma inquieta, de quem sofre, de quem foge. São as cinzas de um cigarro que não foi tragado. São os desvios de caminho e falta de conduta. – Desculpe-me as bobagens, eu não sei ser direta.
Quando leio palavras, sei que quem as escreveu não contou o que sentia. – Não é contar, escrever é entender. – A gente larga palavrinhas tolas ali, vai desenhando as letrinhas, até entender o que está dentro de nós. Daí tantas controvérsias: – pessoas são momentos. Sentimentos são passageiros. Se nós escrevemos para entender o que se passa, sentimos enquanto, depois não mais. – Por isso o perigo.
Escrever é perigoso, porque palavras são para sempre. Quem as lê, as leva. Acha que aquilo está dentro de mim em todos os momentos. Acha que sou aquilo. Acha que eu posso ser tão boa quanto minhas palavras. E não sou.
Um alerta: Quando se escreve, não consegue se contar o que realmente se sente. É impossível. Você enfeita, tenta não errar o português, foge do jeitinho errado e certo de contar, e acaba virando outra coisa. Outra coisa que leva à uma conclusão. Conclusão que enche minha cabecinha de sonhos e fantasias, que me traz verdades, que me faz enxergar: “ – Sim. É isto.”.
Atente-se ao fim e ao começo, prendam-se aos pequenos detalhes, juro que irão entender, pelo menos, ¼ do que eu senti. Porque até quando escrevo sobre o futuro, eu falo sobre o que já senti.
Então, desculpem-me os vários erros de ortografia. Eu preciso sentir e escrever. Não posso simplesmente usar as palavras mais ricas da língua; E confesso que acho que quem fala em muitos detalhes, não sente. Sentimentos são bem puros. São bem simples. A gente não precisa conjugar verbos corretamente e não há necessidade de dominar quatro idiomas para falar: “Eu amo você”. Então poupem-me as delicadezas exageradas, concentrem-se nas gírias cotidianas e falem com aquele jeitinho manso e brasileiro que, vocês sentem algo.
Porque eu já não suporto as pessoas falarem sobre elas em todos os momentos. Não agüento a forma como precisam colocar para baixo outras pessoas para se sentirem maiores. Acabam com a minha paciência esses discursos de paz, quando se vê de longe que não estão em paz nem consigo mesmas. Perco-me em fúrias ao ver que muitos falam, poucos fazem, e desperdiçam meu tempo com seus blá blá blá de vida e como conquistar algo. – É preciso mais do que belas palavras, é preciso de força de vontade e caráter para chegar até o fim.
A gente sabe que todos os livros não vão fazer da sua vida a melhor vida. Inteligência é diferente de sabedoria. Eu ainda não consigo entender se as pessoas nascem ou adquirem sabedoria. Mas eu conheço pessoas que não tiveram estudo e conquistaram mundos. Pessoas que podem sorrir todos os dias sem se preocupar com as nossas futilidades bobas. Conheço pessoas que tem “algo” dentro delas que me acende esperança.
A gente sabe que para vencer na vida só é preciso de esforço. Que o mundo hoje é competitivo; mas sem humildade a gente não cai, despenca. A gente sabe que tem muito hip-hop por aí fazendo rimas que são verdadeiras, enquanto o nosso rock ‘n roll está bajulado de gente que entende muito, mas pouco sabe dessa vida.

Tem gente que sabe conceitos, e tem gente que entende de vida.

Seus martírios me decepcionam. Eu vivo num mundo em que todo mundo faz barulho, e eu só quero silêncio. Esse barulho afasta nossas crenças de felicidade. A coisinha aqui é bem simples: fale baixo, tenha sotaque, use gírias, abaixe a cabeça, repita roupas, descabele-se, desarrume-se, perca a pose. Eu duvido que você consiga mostrar o que realmente és.
Então, todas as vezes que me achar enferma, descabelada, amarela, magra, boba, gentil demais, seca demais, ou, sei lá, saiba: - eu tô sendo eu, neguinho.
Estou matando meus personagens, vencendo meus fios de cabelo e vendo o mundo gritar aquilo que nunca fará parte de mim. – Não venha com suas rotinas. Eu não sei viver a vida das outras pessoas... Eu vivo a minha vida, porque só a minha, já me traz muito trabalho.
E se você não entendeu nada, arrisque-se ler novamente, encontrar detalhes e apegue-se ao: A gente escreve para nos entender, não para contar algo. – Assim fica explicado a falta de concordâncias.
Assim, eu peço mais naturalidade. Porque o mundo não é esta festa que obriga máscaras no figurino. Nada disso! Eu gosto de gente que é gente. Que me faz gostar delas por serem elas mesmas. Porque essas sim, sim, elas me fazem sorrir.

Eu tenho dentro de mim, algumas histórias e inquietações, que se acalmam com sorrisos. Eu preciso sair por aí e acalmar-me ainda mais. Não me peça paralisações, faça-me parar às vezes. Mas não espere que eu fique aqui para sempre. – São pássaros que voam. As penas que cobrem e, no entanto, as asas que deixam o vôo bonito.

Faça mais que a teoria. Atitudes contradizem palavras. Seja você, mesmo que atrapalhe. O verdadeiro vai gostar de você do jeito que você é. Eu gosto de gente que age, não de gente que fala. – Bem vindo aos meus clichês.

segunda-feira, outubro 17, 2011

E.


"Talvez não foste capaz de descobrir meus gostos e sabores de senhora pecaminosa, ou talvez eu com meus pecados afastei-me de ti, ou quem sabe ainda seja eu insipida. Meu querido, desvende-me!"

— Ravena Lamego

YOU HAVE A SOUL?

"Apenas duas pessoas irão conhecer seu coração como ninguém mais o conhecerá: Você e Deus. – Ainda assim, sei que muitas vezes você não entenderá o que se passa dentro de você. Terás medo de amanhã não sentir a mesma coisa, terás medo de se enganar, encontrará coisas passageiras e será cheio de dúvidas. É por esse motivo que acredito que as pessoas nunca falam sozinhas. Tem sempre alguém escutando aqueles que se trancam nos quartos e começam a discutir com pessoas imaginárias que existem, mas não estão ali. Falar consigo mesmo é conhecer você ainda mais. – Entregue seu coração à Deus, feche os olhos e converse com o seu coração, entenda o que há ali dentro e siga o seu caminho. – Hora de fazer uma escolha."


Os olhos deveriam bater no começo de minhas coxas, mas o pequeno bastardinho esforçava-se para levantar a cabeça e espiar meu rosto. O uniforme do Orfanato de São Cristovão não negava sua origem. E a beleza do garoto fazia-me pensar por qual motivo abandonariam uma criança com feição tão angelical.
– O que você faz?
– Roubo almas.
– Como?
Pequeno garoto, eu era um mentiroso. Mas ainda não posso me chamar assim. Minhas crenças me contrariam. Creio que, pessoas superficiais não têm vontade de mudar. E eu tive.
É que Deus não pode vir diretamente até nós. Ou pode, mas não em todos os momentos. Então Ele nos manda pequenos anjos, que são pessoas, e estas nos dizem algo que Ele quer que nós saibamos. – São os recados de Deus. – Essas pessoas podem passar grande tempo ao nosso lado, ou apenas um dia. O que importa são os pequenos tesouros que elas deixam dentro de nós. – E se você for um mentiroso, nunca será alguém assim.
Conforme o tempo foi passando, eu descobri que há pessoas que possuem almas e há outras que não querem tê-las. Pessoas que possuem almas são lindas! Elas têm “algo” dentro delas. São pessoas que sabem que os bens materiais não são tudo na vida, e nem por isso desistem de alguns objetivos. São pessoas que lhe olham com bondade, quando você parece o cara mais errado do mundo. São pessoas que olham com piedade, quando você errou com elas. São humildes, sábias, não competem umas com as outras e, por isso, se destacam. Elas sabem quão são pequenas e sabem quantas coisas lindas o mundo nos traz. Podem sorrir em momentos difíceis, porque sabem que a felicidade logo virá; E, sorrindo, os momentos de dificuldades tornam-se mais fáceis. Elas lhe dão força diante dos abismos, e se você precisar pular, poderiam lhe dar a mão para pular junto. Elas sabem que o amor deveria dominar o mundo, e que ter amor dentro delas é mais que abraços e beijos, é ter uma palavra amigável para o desconhecido e o mendigo da rua. – Ter amor dentro de si é doar esse amor para todas as pessoas. – E, acredite, o amor que está dentro de nós tem que transbordar assim: ao mundo.
– E quem não quer ter alma?
– Quem não quer, não tem.
São pessoas ruins que se acham boas, amiguinho. Elas se julgam melhores àqueles que não sabem ler ou não escrevem corretamente, criticam a vida, as roupas, o cabelo, o cheiro, as músicas, os erros, pequenas atitudes, e grandes afetos. Acham que por uma pessoa não possuir o mesmo pensamento, ela irá despencar, ruir, será má. Dizem-se donas da verdade, mas não semeiam as plantas do próprio jardim. O jardim que cultiva alguns muitos frutos podres. O jardim que despenca no final dessa vida sem nenhuma gentileza e aproveitamento de viver.
– Como o Senhor rouba estas almas?
Eu costumava ser quieto, calado, não falava aos cotovelos qualquer coisa de minha vida. Mas me julgava o cara mais foda dessa cidade. Eu não tocara nenhum instrumento, mas falara mal de quem colocara a voz e a melodia no mundo. Debochara da menina que não conhecera a vida. E, assim, eu me contradizia: Pedia ao mundo para não me julgar porque me dedicara à coisas que não me trariam retorno, mas julgara pessoas por coisas tolas, por seus gostos e desgostos, me achara melhor. Queria ser livre, mas não soubera admitir que as outras pessoas também tinham direito a liberdade. Jogara fora as chaves de meu coração e abrira espaços para sombras ruins entrarem. Eu era vão, oco, sem doçura; E não sabia disso.
As pessoas sem almas são assim: Se acham melhores, mas ninguém é melhor aqui. Somos iguais. Ganhamos da vida as mesmas coisas: braços, pernas, cabeça. E cada um segue seu caminho. – Ninguém está absolto da dor ou do engano. – Eu posso mentir à você, garoto esperto; Como minto ao cara do cachorro quente. – Todos nós seremos tolos em algum momento, todos nós iremos errar e todos nós iremos acabar do mesmo jeito: em baixo da terra. Mas o que define o que acontece depois, é ter alma ou não. – O que define se você é feliz e livre das angustias, é ter alma ou não.
Porque pessoas com alma entendem como são pequenas e vulneráveis. Entendem que não são melhores. Sabem que um raio pode cair em suas cabeças a qualquer momento, e, por isso, fazem tudo como se fosse pela última vez. Colocam amor em todas as suas coisas e atitudes. Possuem fé. Começam e vão até o fim, mas se desconfiam que irão machucar alguém, dão meia volta e escolhem outro caminho. – Não podem se preocupar com os julgamentos, porque elas conhecem o que há dentro delas.
– Eu entendi. Mas, como o Senhor rouba as almas dessas pessoas?
– Rá! Isso é simples...
Eu escrevo sobre elas... Dou nomes imaginários, roubo histórias, compro almas, subo escadas, jogo sujo, deixo uma marquinha em cada pessoa que lê meus furtos e cubro-me de paz por tentar me tornar cada uma das palavras. – Eu quero ter alma, garoto! – E eu espero que você queira também.
– Por que espera isso de mim?
– Porque eu vou ser seu pai.
– Mas eu não sou um bom filho. Estou aqui por isso... Meus pais não quiseram cuidar de mim.
– Viu? Você sabe o quanto é pequeno, e, por isso, você tem alma. Você consegue imaginar uma baleia colorida?
– Consigo.
– Ela pode voar?
– Pode. (Gargalhadas). E ela canta a música do Submarino Amarelo!
– Você tem alma, garoto! Você tem alma!

Abracei-o.

* * *

Só anda comigo, quem tem alma. Sucumbo cada pedacinho das almas que me acompanham. O garoto vai me doar, sem saber, muita imaginação e parágrafos. Espero que ele me perdoe no final, porque roubarei sua história. – É isso que eu faço: Encontro almas, desafio-as à viver, gravo suas memórias, e torno cadernos sem vida em cadernos com muitas cores e alguns sonhos.

* * *

Se você quer um conselho para os ditos de hoje. Então, tenha uma alma. – Porque, quem tem alma, tem um mundo fantástico em seus olhos.

terça-feira, outubro 11, 2011

G.


"If you’re going to try, go all the way. Otherwise, don’t even start. This could mean losing girlfriends, wives, relatives and maybe even your mind. It could mean not eating for three or four days. It could mean freezing on a park bench. It could mean jail. It could mean derision. It could mean mockery—isolation. Isolation is the gift. All the others are a test of your endurance, of how much you really want to do it. And, you’ll do it, despite rejection and the worst odds. And it will be better than anything else you can imagine. If you’re going to try, go all the way. There is no other feeling like that. You will be alone with the gods, and the nights will flame with fire. You will ride life straight to perfect laughter. It’s the only good fight there is.".


Charles Bukowski

– O MEU AMOR.

“Desejou ser forte e mentiu não chorar por aí. A menina disse ao mundo que as fadas não existiam mais, mas todas as noites os fantasmas lhe tiravam o sono. Por dentro era cheia de dúvidas, dores e confusões. Sonhara com solidão, mas não a suportara por muito tempo. Tinha almejo de tranqüilidade, mas seu corpo pedira exageros. A menina tinha sonhos, embora não soubesse quais eram.
A mão que acariciava o rosto do rapaz trazia traços aos sonhos que perfeitamente reproduziam a face do amado. Quando à noite tinha a companhia dele, era fácil dormir. Mas todas as noites traziam-lhe pesadelos e a escuridão parecia falar com a menina: “Você está só, você está só, você está sozinha.”.”


Tenho medo de escrever na terceira pessoa. Tudo o que “ela” escreve é aquilo que me assusta. – Mas há algo que não anda me assustando mais: – o amor. É que ganhei da vida algo que eu nunca poderia sonhar, são momentos doces, são sorrisos raros, são janelas abertas e corpos deitados na cama. Estou contrariando tudo o que as pessoas me falaram sobre o amor. Estou contrariando o que as pessoas falaram sobre Deus e sobre as regras que os homens nos arranjam. Eu joguei os dadinhos na mesa e recebi dois seis. Foi meu mês de sorte.
Eu o olhara bebendo no bar e fingira prestar atenção no que minha colega contara. Não sei bem quais conselhos disse à ela, mas espero que ela não os tenha seguido. – Meus olhos estavam presos no anjo que descia álcool pela garganta. – Cabelos pretos, olhos que fixavam o horizonte, pele branca, sorriso de lado e mãos que gesticulavam a música – embora naquele momento só segurassem um copo.
Livrei-me da amiga e pus-me a pensar no que chamaria a atenção daquele cara estranho sentado no balcão do bar. Não pensei muito. Coloquei-me ao lado, chamei o barman e disse: “ – O mesmo que o dele.”. Um homem que nunca havia me visto logo teria pensado que “quero o mesmo que o dele”, significara “quero sexo”. Mas ele apenas sorriu, me olhou e perguntou: “ – Cansou de me olhar?”. Fiquei vermelha, sorri e disse que meus olhos estavam atentos ao copo.
Esta foi a primeira conversa de muitas. De conversas que se tornaram aquilo que se torna conversas em bar: – amor. – É. Eu sei! Estranho. Mas foi amor desde o primeiro momento e até o fim de nossas vidas.
Porque, quando ele me olha, traz nos olhos todas as flores do caminho. Minha boca fica entreaberta, estou com cara de boba e é fácil notar que estamos apaixonados. Porque ele beija minha testa, segura minha mão, sorri dos meus gracejos, discorda quando estou errada, paralisa meus movimentos e me tira o fôlego.
Ele faz meu coração bater fraco de saudades quando desaparece em sua moto e minhas veias ardem quando escuto-o voltando, buzinando lá da esquina, anunciando: “Meu amor, minha menina, eu cá estou para lhe amar.”. Porque nós já perdemos a noção do ridículo, esquecemos todas as realidades e sonhamos que a vida vai nos guardar para sempre. Seremos eternos, morreremos juntos, nossos caixões serão enterrados lado a lado e na lápide estará escrito um nome que resume os nossos: amor.
Porque nós dois somos o amor. O amor lindo e sereno que faz dos meus dias os mais incríveis, como a mágica do algodão doce ou o sorriso do palhaço. Nós temos as almas de duas crianças, eternos adolescentes, descobrindo as mil faces do amor e sonhando com um mundo que respeite nossos gritos de felicidade.
Porque o amor tem o poder de lhe tornar a pessoa mais linda do mundo, mas poderá lhe tornar a pessoa mais cruel também. Por isso é preciso calma e entrega. É preciso feitiços, mas poções mágicas que os retirem. É preciso fé, mas é preciso ação. Não basta querer, tem que abraçar a pessoa que você ama e sufocá-la de carinho até que ela diga que o ama também.
Ele é o guarda-chuva que não deixa que eu me molhe, mas se gotas da chuva tocam meu rosto, ele é aquele que as seca junto das lágrimas. É o meu café da manhã acompanhado com uma flor de Bom Dia, é o meu almoço preparado com todo o amor, é o meu jantar a luz de velas no restaurante da esquina na Rua XIX. Ele é: – o meu namorado.
Há coisa mais gostosa do que chamar assim o homem que você ama?

domingo, outubro 09, 2011

G.


“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”


[Cora Coralina]

CARTA À DEUS

Quando se escreve uma carta à Deus, nunca se há muito sentido. Pois não é preciso de concordâncias, Deus sabe o que sentimos... A carta é somente uma maneira de eu saber o que sinto.


“Temos uma grande dificuldade em perdoar, no entanto possuímos uma grande facilidade em machucar, magoar e decepcionar. [...] O amor é muito mais cheio de falhas do que nós pensamos. Há nele grandes desilusões. Cada desilusão torna-se uma prova e uma lição. Uma prova para quem é magoado e uma lição para quem magoa. Espere o preço pago pelas ações boas e ruins. – Jogue um bumerangue para cima e veja a onde ele vai parar.”

Caro amigo,
Sei que ando sem muita confiança em Ti. Devo ter me tornado aquelas pessoas que se amam tanto que não confiam mais em ninguém... Bobagem! Não adianta mentir para o Senhor, pois Tu sabes meus erros. Somente o Senhor conhece o meu coração de maneira que ninguém mais conhecerá. Conhece meus medos, meus erros, minhas falhas, minhas mentiras, meus sonhos e amores. E isso, provavelmente, me assusta. Pois conhecendo minhas mentiras, conhecerás aquilo que me fazerá falta ao me punir por elas.
Sei que o Senhor é justo, e por isso não fico questionando as voltas que minha vida anda por dar. Mas está tudo confuso. Sei que não me abandonas, e sei que todo ser humano deve sofrer. Sei que, a frase certa é que, a única certeza é que nós vamos sofrer. Porque ninguém passa por essa vida sem chorar e sem sorrir. Então, sorrir torna-se um momento único e não quero deixá-lo escapar.
Eu não sei que caminho seguir. Perdi meus sonhos e não consigo me lembrar se um dia tive algum. Talvez tive aqueles sonhos que todos sonhavam, mas sonho meu, sonho meu nenhum. Sei que não devo ter pressa, mas acredito que o Senhor não pode fazer as escolhas da minha vida. O que entra e sai dela é por minha conta, então, se meus sonhos não estão aqui é porque não estou me permitindo sonhar. Não quero esperar a vida somente de Ti, acho isso errado. Quero confiar meus remorsos e bons sentimentos à Ti, mas quero fazer a minha vida.
Há um erro nas pessoas que entregam somente à vida aos homens, e há um erro nas pessoas que entregam somente à vida ao Senhor. O Senhor nos guia, é Nosso Pai, mas a vida é nossa. À Ti lhe devo amor, à mim devo-me uma vida.
A vida q’eu mesma andei estragando. Porque tudo estava sob controle, mas não cuidei dos cantos. O meu problema é esse: Cuido do que vem em frente, mas esqueço os lados. E os lados são tão importantes! São os lados que me seguram quando perco o equilíbrio e são os lados que me dão a escolha de mudar a direção. São os lados que guardam pessoas para me dar as mãos. Os lados estão ali para ver algo bonito, para abrir os braços, esticar meu corpo, dizer à frente: “Vem!”. Os lados são minha força.
Mas não cuidá-los é um fardo que levarei para toda a vida. É um sofrimento que fica, porque é bem provável que não haja solução. Quando os lados se vão, a gente caminha em frente só por caminhar... A vida perde sentido, e tem gente que se agarra à Ti como nunca havia.
Senhor, eu já chorei. Eu tenho medo. É tão errado assim ter medo? Então por que dói? Por que a vida não é tão simples quanto um “sim ou não”? Por que para ganhar algo é preciso perder algo? Por que não se pode ter tudo? Por que os sonhos não se concretizam facilmente? Por que não responde minhas cartas com letrinhas simples, enumerando os conselhos e dizendo: “Para de drama, minha filha”? Cadê a minha direção?
Dê-me um lado, um apóio, uma proteção. Alguém que realmente se importe comigo e que eu possa me importar também. Alguém que acalme meus tormentos, me mande parar quando estiver muito errada, que me jogue um balde d’água fria todas as vezes que eu estiver exagerando. Porque essa vida solitária me é cansativa. Errar sozinha é desconfortante. Não quero alguém que erre comigo, mas alguém que se importe com meus erros. Preciso de proteção, pois sou frágil e pequena. Cansei de fingir.
Cansei de levar essa vida meio perdida. Cansei desses jogos de que está tudo bem. Cansei de mostrar-me forte diante de tantas fraquezas. – Estou precisando de férias, pessoas novas, amores novos, caminhos novos. Preciso primeiro de uma direção. Preciso me livrar das mágoas, dos ciúmes e aprender a perdoar. Preciso de planos, escolher uma faculdade, adotar um cachorro. Preciso também controlar a língua, me afastar de quem magoa, e me aproximar daquilo que amo e que realmente é amor. Quero criar novos lados, mesmo que sejam os mesmos. A gente pode reformar, transformar, dar um jeitinho e a casa fica nova.
– Meu Deus! Acho que estou sonhando...
É. Estou... Estou sonhando com uma vida nova. Não importa qual, mas que me faça bem.



Desculpe-me o mau jeito. Sei que muitas vezes a tua resposta não é sim e nem não. A resposta é “espere”. – Bons ventos estão chegando. Eu posso sentir.

terça-feira, outubro 04, 2011

E.



Terás que acolhê-la durante o medo e a fúria. Tu terás que segurar a barra até quando o erro for teu. Pois ela é frágil, moço. Ela é uma menina assustada que já chorou desconsolos, que já teve coração partido e que faz casca-dura mas tá ali desabando por dentro... Vais precisar de calma e persistência. Vais ter que cuidar de cada ferida como se fosse tua, e acredite, são tuas. Trate-a com carinho e, por favor, não desista dela. Não a deixe tristonha e só, outra vez.
Ela aprendeu a caminhar sozinha, mas segurou tuas mãos numa segunda chance. Segundas-chances são raras, moço. Cuidado com os “separadores de mãos”, pois tu sabes que eles são teus próprios demônios.
Moço, não a deixe sofrer outra vez. Mas conte com o teu desconsolo por algum tempo. Terás que abrir pétala por pétala ou não encontrará coração algum. É um caminho longo... Eu já não sei se tu darás conta. Não sei mais se confio em ti, moço. Fui eu que lhe escrevi e, agora, sou eu que não sei mais teus destinos. Não posso mais te dar conselhos, porque me apaixonei pela menina. Descobri que ela é linda, moço. Descobri que ela possui muitas histórias, muitas palavras, e tem vontade dentro dela de viver a vida por aí.
Às vezes fecho os olhos e enxergo-a indo embora. Algumas dessas eu lhe vejo indo atrás, mas em muitas tu ficas parado. Moço, se ficares parado, vou lhe escrever chorando. Vou fazer teu destino triste, vou me concentrar na doce bela e deixá-la feliz como nunca. Vou fazer teu inferno, mas quem abrirá a porta dele será tuas mãos ásperas de erros, moço. Não a deixe ir, não fique preso dentro de ti, coloque fora o que brilha dentro do teu peito. Arrisque-se. – Quem não quiser sofrer que se isole. Mas a solidão é mesmo livre de dores?
– Pitadas de sal.
– Pitadas de açúcar.
O amor é uma mistura. Cuide para que ele não se torne uma indigestão. – “Que tal a cobertura de chocolate?”. – O felizes para sempre é só nos contos, vem aí muita discórdia. Quanta discórdia!

(A.M.D.M.)

NÃO DIGAS QUE "NÃO"

Preciso de alguns conselhos rápidos como O que fazer quando o seu coração para? Porque ele parou. Droga! Droga eu estou falando muitos palavrões, acabou minha delicadeza. Mas sei que ela logo volta, porque é sempre assim. – Desculpa. – Eu sei que eu já lhe confundi em excesso, mas nunca foi por falta de avisos. Eu sempre lhe disse o quão calejada e confusa minha mente era... Eu disse que não haveria concertos e disse que a única pessoa que poderia me livrar da queda desse precipício constante, havia ido embora.
Eu tentei olhar teus olhos de maneira diferente. Tentei falar o que sentia, mas não senti nada do que falei. Menti, mesmo que pouco. Agora a pequena verdade faz de todo o resto uma grande mentira. E eu sei do que falo. Sei o que sentes. Eu já senti o mesmo, e não me olhes assim, à mim foi pior. Tu não conheces a minha história, não sabes d’onde vim, pr’onde vou, porque estou. Então coloque em prática todas as nossas conversas ricas de sabedoria e não julgue o que tu não sentes. – Dói aqui dentro também.
Perdoa cada momento indiscutivelmente bom. E esqueça-os. Guarde as lembranças em qualquer lugar que não seja a memória que fica, que incomoda, que corrói. Faça o que eu digo: Me esqueça. Esqueça-me, porque o fato de eu sentir tudo exageradamente bem, não me faz lhe amar. Esqueça-me, porque o fato de lhe cobrar honestidades, não me faz honesta. E esqueça-me, porque eu não vou lhe acompanhar daqui pra frente.
Não. Dê-me um tempo. Mas não espere. Se vá... Eu não posso amar você. – Vá, beija-flor... Voe! Cá fica um ninho de mentiras, lá há um lar à ti. São músicas que não possuem mesmas letras e melodias. São lembranças que matam aos poucos. São erros seus, porque foste tolo. E são meus erros, porque vou lhe deixar.

Alguns abraços.
Bom silêncio.
Até logo,
logo que seja nunca.

segunda-feira, outubro 03, 2011

A.



“Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim…”


(Cecília Meireles)

AOS SENHORES

Não me pergunte o que eu quero, pergunte-me apenas o que devo fazer. Causa menos espantos.



Apetece-me poucas coisas. Já sonhei mais, hoje quero apenas que simples coisas me invadam e me façam sorrir. Não tenho a pretensão de fazer as melhores coisas, nem quero possuí-las. Quero somente poder amar aquilo que tenho.
Eu permaneço sentada em meu canto e observo as pessoas. Elas idealizam suas vidas. Elas idealizam suas vidas de maneiras iguais. Você nasce, vai à escola, depois à faculdade, arruma um bom emprego, casa, tem filhos, até que a morte vos separe e separou, – morreu. – Eu não tenho certeza se eu quero fazer as mesmas coisas, do mesmo jeito, da mesma maneira em que manda o figurino.
E se eu quiser parar? Se eu não quiser seguir o mesmo caminho? Se eu tenho medo de me tornar mais uma dessas pessoas tristes que procuram terapeutas, drogas ou amantes para disfarçar suas dores, erros e fracassos. – Notem que isso não foi uma pergunta.
Se eu não dou importância para dinheiro. Se a minha vida for só isso: uma casa simples, uma caneta e um papel. Se eu apenas quiser viver cada dia como se fosse o último... Irão me chamar de quê? Jovem. Irresponsável. Doida. Dane-se!
Sei que sonharam grandes planos para minha vida, desculpe não ser a filha que vai realizá-los. Eu não quero grandes coisas e não pensem que eu estou mal. Não me levem à médicos, amigos, igrejas e nem encham minha comida de vitaminas. Não preciso de todos estes remédios. – Eu apenas não concordo com essa vida. – E não me sinto preparada para concordâncias, maturidades ou para usar corretamente a língua portuguesa.
Livrem-me dos seus discursos. Essas palavras como entram, saem. Eu amo vocês. Eu admiro vocês. Mas eu não quero me tornar isto: escrava do trabalho, infeliz com o casamento e preocupada com as dividas no fim do mês. – Não pensem que irei fugir de alguma coisa, não irei. Eu só não fiz a minha escolha.
Não quero que me digam que sou apenas mais uma adolescente revoltada, não sou. Adolescentes revoltados precisam de um motivo para se revoltar e querer chamar atenção. Eu não quero chamar atenção. Eu não tenho pretensão nenhuma em me destacar. – Eu estou apenas vivendo. – E Os Senhores não me criaram para ser somente mais uma adolescente.
É que todos os dias eu acordo e me pergunto: “E se eu não existisse?”. Que falta eu faria para este mundo se eu não tivesse nascido? Sendo mais uma dessas pessoas que idealizam a vida conforme a televisão da sala manda, eu não farei falta alguma. Mas e se eu seguir outro caminho? Darwin foi o gênio da genética, Hitler foi o demônio dos Judeus e Ciganos, Colombo descobriu as Américas, Clarice Lispector escreveu os pensamentos das moças apaixonadas, Michael Jackson nos ensinou a dançar e dizem que alguns homens já foram até a Lua. – Fariam falta. Fizeram história. E eu não quero ser nenhum deles.
Mas eu não quero ser vocês, nem ela, nem ele, – não aquele. Eu quero ser “eu”. Batam portas aos clichês, mas eu só quero ser eu. Poupe-me do seu inglês, francês, espanhol. As pessoas irão gostar de mim da maneira em que eu sou. Eu não tenho que ser doutora, delegada, atriz ou modelo. Eu só preciso ter bom coração. O resto vem...
O resto eu faço. – Eu vou vivendo. Prometo não sumir, nem fazer grandes loucuras. Não tenho minhocas no lugar dos miolos. Só quero viver, ir vivendo, fazer vida. Mas vida do meu jeito. Sem pressa, sem máscaras, sem grandes mudanças. Eu vou viver a vida por aí...




– Pois vocês acham que eu estou errada?
– Você está.
– Ora! Então vocês acham mesmo que os grandes gênios foram politicamente corretos e amaram a Deus sobre todas as coisas?


Não é ser um gênio. É que as pessoas não são totalmente certas ou totalmente erradas. O fato de Sr. Kobain doar milhões à um orfanato, não o livra do assassinato de seu sócio. As pessoas são feitas de atitudes. Somos todos momentos. E acreditem: – só me tornarei boa o suficiente se eu souber errar.

Deixem-me errar.
Deixem-me ser.