Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

sexta-feira, outubro 25, 2013

25-10-2013



"Trago no olhar visões extraordinárias,
De coisas que abracei de olhos fechados."

FLORBELA ESPANCA

MENTIR A COR DOS TEUS OLHOS

“Não poderia me orgulhar de quem fui. Se me perguntarem se minto sobre a minha vida. Sim. Minto. Chegamos a um momento de nossas vidas em que tu tens que incorporar uma postura que se exige. Que as pessoas pedem. Que a profissão lhe dá uma única alternativa: “vestir” aquela moldura.” 



A velha estrada está seguindo comigo. São resquícios de uma vida que lhe acompanha, para sempre. É a lama na barra da calça, é a cicatriz na sobrancelha, são os poucos fios grisalhos. Está gravado nos pequenos detalhes de meu corpo. Quem os observa, reconhece-os. Com o tempo todos saberão. A estrada velha é o caminho que você, eu, ele, já percorremos. O arrependimento. O erro. O pedido de desculpa que não recebe perdão. É a tolice da urgência. O amor perdido, a oportunidade perdida, o tempo perdido. É a morte. A perda. O desgaste. A lembrança que tento apagar. 

Você poderia compreender. São trinta e cinco anos de velas acesas. A chama que queima aqui dentro tem como pólvora a solidão. Olhar teus olhos negros é encontrar a escuridão de minh’alma. Ah! Tão belos olhos negros! Tua fé despenca a minha razão. Teu sorriso entende o meu afeto. Teus sumiços me entregam a nossa semelhança: o medo de amar. O teu segredo é o meu segredo. Eu te esperara, tu me esperara, o nosso silêncio desejara alguém por quem calar. 

Eu deveria, porém não me apetece saber sobre o teu passado. Não é a tua hora. Nem a minha. Deixe a velha estrada escondida nos nossos mistérios. Lhe quero agora. Por agora. Para sempre. Que o sempre dure. Que se esgote. Que nos torne verso. Que rime. Que arrepie. Que nos motive. 

Motivação é o que eu precisara. Deixar os erros do passado no próprio passado é a lição que sinto que vais me dar. Não. Não tire satisfações. Aceite-me. Deite-se ao meu lado que lhe conto porque ser um bom profissional. Eu preciso. Preciso saber que sou capaz. Que há honestidade em meu sucesso. Que posso salvar os pobres. Sim! Salvar os pobres! Lutar por uma causa. Melhorar a vida de quem tenho por perto e de quem precisa da minha profissão. De quem precisa de meus motivos mais do que de minhas palavras. De quem não tem esperança. Eu quero ser a fé de alguém. 

Eu prometi ser o teu amor. Eu vi que tu serás. Podes fugir. Irei fugir também. E, quando voltares, não precisará falar, eu saberei. Eu entenderei a tua volta. Todas as tuas voltas. A partir de agora terei teu nome aqui. Neste caderno onde só passaram pessoas que me motivaram. 

Esquece. Esquece teus erros também. Seja o meu amor. Devolva-me as tuas mãos. Abraça-me. Abraça-me forte. Leia o que escrevo entrelinhas. E nunca, nunca, nunca espere que estas palavras sejam diretas. Terás que descobrir. Terás que reler. Ser o que está escrito. Pronunciar. Escutar. Respirar. E, por favor, venha aos meus braços no final. 

Sou o teu socorro. Sou quem irá lhe ouvir sem a cobrança dos acertos. Quero compreender as tuas inseguranças. Quero ser o momento que tu não desejarás que termine. Acolher a tua covardia e transformar em coragem. Porque sou covarde. Porque tudo me assusta. E porque no teu abraço eu sinto que eu posso ser tudo. 

Vamos mostrar aos tolos que o recomeço nos pertence. Nos pertencer sem prender a alma do outro. Fazer o outro feliz. Porque amar é abrir mão da tua felicidade para fazer o outro feliz. É defender a sementinha que foi plantada no primeiro olhar. É entender não entendendo. É tentar ser a mesma pessoa de 19 anos, que conquistou aquele amor, até os 50. É não esquecer o motivo de tu estar ali. E não esquecer, principalmente, o motivo do outro ainda estar ali. Amar é acordar todos os dias para motivar o outro. 

Quero. Deus do céu! Como quero! Amar-lhe... Deixa transformar o abraço apertado em amor. Muda comido. Vamos ser pessoas melhores pelos olhares de domingo. Ser o motivo de alguém. E, desculpe-me, porque os teus olhos não são negros. Mas o teu abraço é meu.

quarta-feira, outubro 23, 2013

10/2013

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia." 

 Jose Saramago

SONHEI QUE BRIGUEI COM ANTÔNIO

“Não dá. A verdade é que eu não consigo resolver problemas. Eu fujo deles. Não há justificativa. A dor parece menor quando eu a evito. Às vezes, imagino se enfrentá-la amenizaria o momento. E, no fim, não adianta. Eu deixo corroer os cantos. Minha mesa está perdendo as pernas. E, mesmo que seja contraditório, eu não me assusto ao vê-la despencar. 

Eu deixei de me importar com tudo o que era fundamental. Quem fala que eu pareço uma criança, não sabe o que eu passei quando tinha cinco anos. São dores que levamos para sempre, no silêncio. Não fui mimada. Eu só nunca tive nada que fosse meu. E eu tenho medo de ter. – Eu não estou mais feliz assim, Antônio.

Quando eu tinha dez anos eu brigara para falar no microfone da igreja. Hoje, eu não posso trocar uma palavra com um estranho. Não posso me dar ao luxo de amar e sofrer. Eu não conseguiria. Eu irei embora todas as vezes que forem necessárias, e todas estas vezes, eu irei imaginar se não seria melhor voltar e te abraçar. 

Cansei de pessoas querendo ler as minhas respostas. Eu não me dava bem com a minha mãe, porque não suportara a ideia de que alguém cuidasse de mim. No começo, eu tivera que repetir várias vezes: “eu sou sozinha, eu sou sozinha, eu sou sozinha”. Não era só mais uma leitura de autoajuda. O verbo ser deixou de estar. Eu não estava mais sozinha, eu era uma pessoa sozinha, assim como milhares de pessoas no mundo. Eu cheguei a consciência da minha solidão. 

“Confie em seus pais” é, com certeza, a frase mais sábia do mundo. Mas todas as vezes que estou indo embora da casa de minha mãe, eu sei que eles não estarão ali para sempre. 

Esta é uma fase que tem de passar rápido, no entanto eu tenho que aprender tudo o que eu puder. A faculdade só tem me mostrado uma coisa: esta parte da minha vida eu consegui acertar. Eu não jogarei fora esta oportunidade. 

Dá medo chegar perto de você. Dá medo sentir o que eu sinto. Dá medo sentir qualquer coisa por qualquer pessoa. Eu já amei uma vez, tentei ser a pessoa mais compreensiva possível, e não deu certo. Dá medo não dar certo outra vez. 

Antônio, é só mais um personagem que eu matei. Ele poderia ter qualquer nome. Ele poderia ter o teu nome. Mas eu não posso arriscar tudo. A palavra arriscar está fora do repertório. 

Eu escrevo há anos e, esta, parece só mais uma história que poderia ter dado certo se eu não a tivesse escrito. Só queria poder ter dito que eu aprenderia a gostar de Antônio.”