Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

sábado, janeiro 28, 2012

A.


"Mas esses tesouros não devem ser procurados, muito menos desenterrados. Nada de escavar o fundo do mar. Isso frustraria nosso objetivo. O mar não recompensa os que são por demais ansiosos, ávidos ou impacientes. Escavar tesouros mostra não só impaciência e avidez, mas também falta de fé. Paciência, paciência e paciência é o que nos ensina o mar. Paciência e fé. Precisamos nos deitar vazios, abertos e sem exigências, como a praia — esperando por um presente do mar."

— Presente do Mar, Anne Morrow Lindbergh

MEUS DIAS DE FÉRIAS SERÃO TEUS

As palavras emudeceram minha boca e tomaram minha mente. Abaixei a cabeça, peguei o lápis e comecei a escrever. Escrever sem pausas, sem olhar para os lados, escrever e escrever. Sentada no meio da sala, chamei a atenção do professor e alunos que observavam a colega estranha. Com voz cautelosa, o professor me interrompeu:
– Gabriella, está anotando minha explicação em seu caderno?
E com a voz de quem não suporta ser interrompida, respondi:
– Não. Estou escrevendo meu diário.
Foi quando entendi que o meu lugar era sempre a última carteira da fila. Sem chamar muita atenção.


Eu não entendo até que ponto você consegue enxergar meus sentimentos. Porém, é importante que você o saiba. Eu tive que largar a menininha mimada e superar barreiras para andar ao seu lado. Muitas vezes, quando não o fiz, você me encarou e deixou claro que eu não deveria agir com você da maneira que agiria com qualquer outra pessoa. Me fez amadurecer, olhar a vida, entender o que era a fé que existia dentro de mim, e – por isso – eu tentei ir embora algumas vezes.
Não é e nunca foi fácil ter que aceitar o quão imatura e tola eu me tornei por minhas atitudes. Não consegui aceitar o fato de que, muitas vezes, eu me perdi. E pedir-lhe desculpas por meus exageros foi perder o meu orgulho. – Eu nunca soube perder. – E tive que aprender que perder nem sempre significa derrota. Algumas vezes a perda é reflexo das marcas que ficam após ter tido uma grande experiência.
Você, e seus onze anos mais velho do que eu, mostrou-me que a maturidade não é questão de idade. Deixou-me entrar na sua vida e me fez baixar a guarda para que entrasse na minha. Apresentei ao pai, mãe, irmão e cunhada. Cuidei de seu filho e me intrometi nas vezes em que acreditei que houvera injustiça com aquela criança de cinco anos. Fui namorada, madrasta, amiga, conselheira e aluna. Fui sua, embora meu coração vivesse turbulências do passado.
Chorei. Derramei lágrimas como nunca haviam caído por outra pessoa. Cuidei, me preocupei, protegi e mudei. Eu mudei minha vida, minhas escolhas, minha cabeça e mudei à mim. Tudo o que era simples e feito dentro de mim, tornou-se rápido, pequeno e passageiro. As mudanças me fizeram colocar os pés no chão, aceitar as deficiências da vida e me preservar dos males que a impulsividade poderia me causar. Descobri que o amor, muitas vezes, é manter-se longe. E a frase “Você tem que aprender que existem pessoas que permanecem em seu coração, mas não em sua vida” nunca fez tanto sentido.
Te amar para sempre é o mesmo que ter um grande problema e achar que nunca irá resolvê-lo, pelo tamanho da confusão, pelo que se sente agora. O “aqui e agora” me traz a sensação de que a única pessoa pela qual eu tomaria veneno, como num romance, seria você. É você. Será você até que outro amor me faça achar algum motivo.
Eu quero que me perdoe por todas as vezes que não respondi suas gentilezas, por quando desisti de nós e tentei voltar ao meu amor antigo, pelas vezes que fui fraca, por quando precisei ser sincera e agi em meio às mentiras, por não ter tido coragem e, por julgar-te covarde, sendo ainda mais medrosa que você.
Quero que me dê seu perdão. Embora eu tenha certeza de que ele só virá com o tempo. E de que não terei muitas chances para mostrar que, apesar de parecer o contrário, eu lhe amo. Lhe amo. E sei que devo desculpas à todas as pessoas que enganei durante todo esse tempo.
Eu amo você com a doçura dos meus beijos, das mãos que lhe fazem carinho, do coração que é sereno ao seu lado, da vontade duradoura de casar-me e ter filhos, ser feliz, e passar longos dias de férias em sua companhia.
Não sou perfeita. Não sou a pessoa mais interessante, linda e fascinante do mundo. Sou cheia de defeitos, falhas e erros. Falo sem pensar, tomo atitudes e decisões precipitadas, corro atrás só quando já não é mais meu, e costumo me desfazer daquilo que gosto. Mas eu prometo mudar. Prometo com a única esperança que me resta de sorrir tranquilamente: você.
Porque eu estou sujeita a ser outra pessoa desde a primeira vez que me olhou nos olhos e disse: “Gostei do seu jeito.”. Eu tenho que dar o melhor de mim para merecer cada dia do nosso amor. E já não é desrespeitar aos meus desejos, ao meu jeito, meus ideais – é respeitar o que sinto.
O que sinto é simples e bonito, assim como as flores. É especial e único, assim como cada sorriso. É bobo e engraçado, assim como o palhaço. É triste e frio, assim como a solidão. É encantador e harmonioso, assim como a música. Está cada dia num lugar, mas continua o mesmo, assim como o ponteiro do relógio. E faz a vida parecer fácil, me dá forças, e eu tenho confiança nisto. O que sinto é Amor.
É o presente mais sagrado que Deus poderia me dar. Uma nova chance. Um amigo à quem compartilhar meus momentos de fraqueza. É com quem, se você permitir, quero passar o resto dos meus dias.
Meus dias de sol serão teus. E todos as histórias românticas eu dedicarei à você. Dessa vez, eu tenho um único compromisso em minha vida: te ver bem. O resto serão planos. E a única coisa que irá me satisfazer é saber que estamos juntos. Aqui, agora e para sempre.

ANNE - SHE'S THE WOMAN


Há meses que não o faço, acreditem. E foram raras as ocasiões que fiz isso: indicar algo. Não sou boa nisso, porque cada um tem um gosto. E, como eu tenho o meu, me frustro quando noto que as pessoas não gostaram daquilo que me faz bem. Mas – aí vai – uma indicação.
Se há uma mulher que eu admiro é Anne Morrow Lindbergh. Num simples trecho que contém na edição de 50º Aniversário do livro Presente do Mar, de 2005, sua filha Reeve Lindbergh, a descreve: “Lembro-me de como ela sempre parecia tão miúda e delicada. Lembro-me de sua inteligência e sensibilidade. Porém, quando releio Presente do Mar, a ilusão de fragilidade se esvai, revelando a verdade. Como pude me esquecer? Ela foi, afinal, uma mulher que criou cinco filhos depois de perder tragicamente o primeiro, em 1932. Foi a primeira mulher nos Estados Unidos a obter um brevê de piloto de planador de primeira classe, em 1930; a primeira mulher a conquistar a Medalha Hubbard da National Geographic Society, em 1934, por suas aventuras de aviação e exploração. Ela recebeu ainda o Primeiro National Book, em 1938, por Listen the Wind, romance baseado nessas aventuras, e permaneceu incluída na lista de mais vendidas por toda a vida.
Esquiou comigo em Vermont aos 65 anos, e fez longas caminhadas nos Alpes suíços aos 70. Cinco anos depois, passou a noite na cratera do vulcão Haleakala com alguns de seus filhos e amigos.
Eu me lembro de olhar para cima, para a grande abóbada celeste à noite, reluzente de estrelas, enquanto minha mãe, pisando firme em suas botas tamanho 35, apontava e identificava para nós o Círculo dos Navegadores, Capela, Castor, Pólux, Prócion e Sírio. Eram as estrelas das quais ela aprendera inicialmente a estabelecer um curso na escuridão, como aviadora pioneira, 50 anos antes.”.
Já dá para entender o motivo da minha admiração, não é? – Além disso, Anne, escreveu 12 livros (se não me engano) e tem histórias fascinantes como a viagem que fez com seu marido, o aviador Charles Lindbergh, pela África e o Pacífico para realizar pesquisas ambientais.
Mas todas essas informações vocês encontrarão nos livros e sites de pesquisa. E, se tiverem a oportunidade de ler um livro dela, não hesitem. Há muita sabedoria e experiência em cada palavra que ela escreveu.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

A.

COMO DIZIA O POETA
Composição: Vinicius de Moraes e Toquinho


"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"

MEU SOL

Meu erro foi acreditar que o amor acontece durante a noite. O amor é durante o dia. Porque o sol é para sempre.


Tu deves entender os meus parênteses. Preste atenção naquilo que não lhe falo. Inquiete-se com o meu silêncio e não perca os meus olhos. É aqui que quero estar, menino. Sim. Sou desse tipo de gente que larga tudo para viver um romance. – Não se apegue demais as minhas palavras. – Eu as escrevo às vezes, e, às vezes elas me escrevem. – Eu não me importo com a pontuação, com a maneira certa de escrever a palavra ou formar a frase. Eu desenho nas letras o que está dentro da alma.
Você sabe, menino, que eu sou como macarrão instantâneo. Sabe que repito palavras, mas sei trocar os personagens. Sabe os pontos onde quero chegar e sabe que não possuo finais. Só não sabe ler as minhas entrelinhas. Entre-as-linhas, aos pouquinhos, eu vou registrando o teu nome. Teu nome que parece música e que com música eu canto o meu amor.
Faça-me o favor de não desistir de mim. Sou como essas mulheres que mudam conforme as mudanças da lua, mas ainda consigo encontrar teus lábios no escuro. Por isso, me escute, menino. Me ouça calar. Leia meus olhos, diga as minhas palavras, escute o meu silêncio. E permaneça ao meu lado.
Segure as minhas mãos com o mesmo nervosismo que eu seguro as tuas. Conte as pedras do caminho como se fossem pingos de chuva. Abra os braços para me abraçar e me abrace forte. Segure-me nos teus braços, menino. E não deixe que eu duvide da tua força.
Deixa que eu desvende os teus mistérios e guarde os teus segredos. Faça com que eu sufoque, a respiração trema e eu perca o fôlego. Faça-me arder na tua pele e tatua teus sinais no meu corpo. Mas não deixa que eu perceba o teu passado.
Posso despedaçar o seu coração ao saber por onde andou sem mim. Então, me acalme. Demonstre a tua fé em mim e não me encha de incertezas. Incerta e desconfiada eu já nasci. Distraia meus parágrafos e, por favor, me traga flores. Me traga céus, algodão-doce e amores.
Amores daqueles que eu possa respirar fundo e salvá-los em papéis. Amores que terão teu nome traduzido em nossa língua. Amores que soletrem a data do nosso encontro. Amores que não permitam nosso distanciamento. Amores que me amparem, que me sigam e que me criem.
Não preciso que as pessoas saibam que sou tua. Apetece-me somente que o teu corpo saiba disso. E que o sol brilhe quando estamos juntos. Porque, sabe, menino. Amor não é durante a noite. Amor é durante o dia. E o sol é para sempre.
[Sejamos sempre] o dia, o amor, e a esperança de que a morte não nos traia. Menino, eu adoro a vida que você trouxe à minha história. Eu necessito da tua existência e da beleza dos teus olhos. – Você é a minha luz agora. Não deixe que tudo se apague.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

A.

O VELHO E A FLOR
Vinicius de Moraes


"Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor."

PERMANEÇA


Ninguém irá lhe entender como eu. E há um espaço vazio que fica aqui dentro quando você está longe. Mas não é hora de fraquejar. – Ontem à noite, senti vontade de pegar o telefone e ouvir a tua voz. No entanto, eu saberia que era uma vontade instantânea. Duraria até o momento em que a mágoa tomaria meu coração outra vez. E então sobraria o ódio, o desprezo, a raiva que suas palavras despertam em mim. Pois é isto que sobrou de você: saudade do que eu pensei que tu fosses e rancor das tuas escolhas.
Os enganos foram meus. Sempre meus. Eu soube quem tu eras desde o inicio e, ainda assim, uma parte de mim insistia em caminhar ao teu lado. Embora, ao teu lado, eu nunca estivesse.
Às vezes, tu eras um. Noutra vez, tu eras outro. E toda aquela contradição me feria. – Chorei lágrimas de sangue e permaneci calada. – Nunca contestei, nunca disse o que eu sentia, e nunca deixei de sentir. Nunca soube partilhar nada com você. Tu nunca foste meu ombro amigo. Quando ganhou minha confiança soube perder no exato momento.
E eu ainda não entendo onde, nem quando, mas em alguma parte da minha vida eu tive que aprender a filtrar as coisas. Nem todos merecem o meu sorriso, porque a maioria irá sentir inveja dos motivos pelo qual ele está em meu rosto. Nem todos merecem saber que as lágrimas estão caindo, porque grande parte das pessoas irão fazer com que caiam mais. Os problemas que são meus, são meus. As dúvidas que são minhas, são minhas. Posso estar rodeado de pessoas e continuar sozinho. Conta-se nos dedos aqueles que são verdadeiros. Existem pessoas que você poderá confiar e existem pessoas que só estão ali para aliviar a dor. Um espelho poderá se tornar um buraco quando não sabemos quem somos e temos vergonha daquilo que nos tornamos. É preferível o silêncio quando não há explicações para aquilo que dói. Você não poderá chegar ao ponto de ter pena de si mesmo, ali – é fim da linha. As pessoas que te olharem com dó, não irão mexer os dedos para que as coisas se resolvam. Palavras duram alguns momentos; Atitudes provam palavras, caráter, e poderão ser duradouras. A vida não é uma escada rolante, você tem que subir com seus próprios pés. E, como uma escada, você poderá subi-la e poderá descê-la. Tem que saber a hora e a direção dos degraus.
Eu perdi a direção. E acho que desci alguns muitos degraus. Não sei como voltar atrás e, por enquanto, o desejo é me manter parado. Outra coisa que a vida ensina é que você tem o direito de manter-se só, quieto, estável – mas o tempo continua, as pessoas caminham, as oportunidades acontecem, e, quando você está imóvel, pode perder o que conquistou.
Porém, é perdendo tudo que nós reconhecemos o que devemos ganhar. É necessário chegar ao fim do poço para saber d’onde é que vem a água que mata nossa sede. É preciso parar, dormir cedo, se alimentar melhor, ou, perder o sono, comer pouco, sentir a depressão ganhando suas veias para que possamos desistir do que é errado e ir atrás do que é certo.
Eu sou quem repete sete vezes em frente ao espelho: continue tentando, continue tentando, continue tentando, continue tentando, continue tentando, continue tentando, continue tentando. E agora que isto não está funcionando, sou quem rejeita o espelho e respira fundo. Sou quem dorme e tem o olho aberto. Sou quem precisa de um tempo. E que Deus permita este tempo à quem já errou tanto e sofreu com os erros alheios. Pois eu não tenho mais nenhum plano, se não, manter a calma.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

A.

OLHA
Chico Buarque
Composição: Roberto Carlos e Erasmo Carlos


"Olha!
Você tem todas as coisas,
Que um dia eu sonhei pra mim.
A cabeça cheia de problemas,
Não me importo.
Eu gosto mesmo assim...

Tem os olhos cheios,
De esperança.
De uma cor que mais,
Ninguém possui.
Me traz meu passado,
E as lembranças.
Coisas que eu quis ser,
E não fui...

Olha!
Você vive tão distante.
Muito além do que,
Eu posso ter.
Eu que sempre fui,
Tão inconstante.
Te juro meu amor,
Agora é pra valer...

Olha!
Vem comigo aonde eu for.
Seja a minha amante,
E meu amor.
Vem seguir comigo,
O meu caminho.
E viver a vida,
Só de amor..."

PAGUE A VIDA


Sentado na mesma cadeira da mesma sala, da mesma casa, que ainda fica no mesmo endereço da mesma cidade e tem os mesmos vizinhos, ele imagina os momentos bons que deixou de passar ao lado dela. Fecha os olhos e traz a lembrança do seu olhar, do sorriso e de como era irritante a maneira com que ela tentava lhe fazer ciúmes. Lembra do quanto era boba e, ao mesmo tempo, linda. E sorri das brincadeiras e dos planos que ela fazia por eles dois. Imagina se o destino os reserva reencontros e sabe que por ela isso não aconteceria. Tem raiva de si mesmo porque entende que a culpa da separação é dele. E sente-se triste por ter perdido o amor daquela moça.
Era a história de amor triste que todos os escritores tem em seu currículo. Era a música sem beleza que representava o mais verdadeiro sentimento: a solidão. Sim. Porque estar só é sentir-se só e, assim, a solidão não poderia deixar de estar na lista daquilo que sentimos. É um quase-sentimento que vira estado físico. No começo, existem muitas pessoas ao nosso lado, tentando fazer com que possamos distrair a mente, mas nos sentimos sozinhos. E, no fim, nós nos afastamos e as pessoas desistem de nós, então finalmente estamos sós. Encontramos a liberdade que sempre sonhamos. Não devemos nada à ninguém, mas não temos mais ninguém ao nosso lado. – E quando paramos para achar o motivo de tanta dor, a culpa nos invade e nos faz recordar os caminhos solitários que trilhamos.
A história dele é tão errada quanto a sua. Pois ninguém passa por essa vida sem errar, sem sentir culpa e sem sentir pena. Pena de si próprio, por seus próprios erros, por suas próprias escolhas e por seu próprio coração vazio.
Ele é – agora – homem que acende o cigarro todas as noites ao chegar do trabalho. É quem desliga a televisão e abre um livro. Quem faz sua própria janta, come do seu próprio alimento e vai ao supermercado todos os primeiros sábados do mês. Quem paga suas contas, tem seu próprio carro e pode gastar seu dinheiro onde lhe apetecer jogá-lo fora. Ele é o homem que [imagina] as crianças correndo pela casa, a esposa no fogão e o cheirinho de bolo de chocolate vindo do formo. Faz propagações tão reais do amor que não construiu que quase parece verdade. Ele é o homem que tem vida, mas parece não viver. Quem desperdiçou a chance de amar.
Tenta, todos os dias, reconstruir sua vida, mas sabe que dentro dele o passado não terminou. Uns dos maiores perigos ao ser humano solitário são as histórias inacabadas. Estas histórias invadem nossos sonhos e tornam-se pesadelos. Estão presentes em todo maldito pensamento antes do sono e nos fazem revirar a cama como se trocar de lado fosse pausar a mente. Tira-nos o sono e nos faz baixar a cabeça e engolir seco todas as vezes que alguém toca em determinado assunto e temos que mentir. É uma falta de fé de que tudo irá se resolver e é uma certeza de que se o tempo voltasse, teríamos feito tudo diferente.
Histórias sem pontos finais deixam restos. O que sobra é o sentimento de culpa. Enquanto ele se culpa por tê-la deixado ir, ela se culpa por um dia tê-lo deixado entrar. Cada um com seus erros e sempre a mesma dor. A dor que afeta e não passa, que se prolonga nos Natais vazios e torna-se pedido em virada-de-ano. A dor do amor que deixou de ser.
Ele não tem mais notícias sobre ela, e ela faz questão de ignorar qualquer contato. Ela refez o armário e limpou a bagunça, mas quando fecha os olhos a imagem do rosto do ex-amado a assombra. Ela cruza os braços na tentativa de estancar a dor no peito, ele respira fundo e segue em frente. E sempre que é inevitável, apertam o botão, e a música toca. Qualquer música que os tire dali.
Ela não faz idéia de quantas vezes ele foi fraco e leu suas cartas. Ele nunca saberá quantas vezes ela foi fraca e derramou lágrimas sobre as fotografias. No entanto, ele sempre será mais triste que ela. É uma regra: Quem abandona um amor não pode ser feliz.
Não é imediato que nos damos conta do que fizemos. Nós notamos nossas atitudes vãs quando a vida começa a nos castigar. Porque a vida é o espelho que nós temos na parede, ela reflete. Com a diferença de que o reflexo das coisas feias ela costuma prolongar. Enquanto as pessoas acreditam que o tempo cura feridas, os solitários sabem que o tempo só serve para fazer com que aqueles que devem à vida, possam pagá-la com juros.

Pagar a vida é não viver.

E depois que se paga? O homem cria família, faz laços, sorri, abandona os livros tristes e começa a correr todas as manhãs, senta no sofá para assistir o jogo enquanto a esposa briga com ele, as crianças correm pela casa, o jantar tem o gostinho das mãos de quem ele ama. E ele aprende que a vida é uma via de duas mãos. Ter que saber ir, tem que saber voltar, e assim fazer o caminho.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

A.

PÉTALA POR PÉTALA
Novo Millennium, 2005
Chico César



‎"A sua falta me fez ver,
O que de mau a vida pode ter.
E a sua volta me dá mais,
De todo o mel que eu ousaria querer.

Sua presença me faz rir,
Nos dias feitos pra chover.
Nao há revolta pra sentir,
Nem há milagre pra não crer.

Vinda que finda,
A tinta de pintar tristeza.
E deixa os mistérios plenos de sentido,
A flor da vida toda.

Pétala por pétala,
Que um tolo pode colher.
Sem saber que é amor...

Vem e aumenta em mim,
O único que sou.
E subtrai do que em mim passou.
É amor, vem..."

REMAR


Confesso: Eu perco as reações de meu corpo na tua chegada. Ou num simples telefonema e se escuto teu nome num comercial de TV. Confesso, sou culpada. Me deixei levar por teu sorriso e agora minha vida é tua. Eu sei que é arriscado entregá-la assim, mas não conheço outro jeito de baixar a guarda e confessar meu crime.
Tu, agora, manda nos meus passos. Teus olhos tornaram-se minha visão e eu já não sei olhar para trás. Eu sei que demorei e errei durante toda a demora, mas cá estou, ajoelhada pedindo que me aceite. Eu preciso lhe entregar cada palavra que se formou durante a conquista. E devo lhe avisar que tu tens um grande problema.
Sou problema, sim, moço. Sou errada. Tenho dramas, sobremesas, truques, magias e mentiras dispostas à serem entregues na tua caixinha de surpresas. Tenho ciúmes, imagino coisas, sou precipitada e impulsiva, não tenho controle e odeio a camisa xadrez que tu usas todas as quartas-feiras.
Faço birra e compro revistinhas de piadas para ler durante o percurso que faço até o teu apartamento. Mudei minha vida, estou disposta a escutar a tua música, fico louca quando tua mão encosta em minha cintura e me perco quando teus lábios encontram os meus. Eu não sei ser metades, e só sei me entregar inteira, sou oito ou oitenta, mas – agora – meu coração é teu.
Não preciso de mais nada, de mais ninguém, de nenhuma outra estrada. Só preciso do teu abraço carinhoso, do toque do teu violão, dos teus olhos bonitos e afetuosos pedindo para que eu fique. Porque, ao teu lado, dispenso palavras e nossos corpos falam por nós. Sou tua. Tua menina, tua vida, tuas maneiras, teu caminho e tua fé. Eu sou quem faz teu coração bater acelerado enquanto deito minha cabeça em teu peito.
Eu sou quem escuta as batidas e suspira a certeza de que, agora, este amor existe. Sou quem manda recados de Boa Noite, Boa Sorte e Sejamos Fortes. Porque, moço, eu não quero lhe fortalecer e lhe dar palavras de fé. Eu quero que, juntos, nós possamos nos fortalecer, tenhamos fé e esperança, e sejamos amor.
Chega dessas vidas separadas. Eu quero ser “nós”. Quero fazer planos, tomar decisões e ir no cinema com você. Quero estar ao teu lado hoje, agora e sempre. Moço, eu quero ser a pessoa responsável pelo teu bem-estar, pelo teu sorriso e pela tua vida.
Porque, moço, o Senhor é responsável pela minha vida agora. Então, construiremos nosso barquinho e iremos remar. Re-mar. Re-amar. E amar como se a última vez.