Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

18 dias de 12 meses

"O que desejo é libertar todas as minhas fraquezas, 
chorar até que acabe o fôlego, 
dormir até que os dias melhorem, 
afogar-me em toda a piedade gratuita, 
pedir todo o carinho e os abraços que me faltam, 
tornar-me a vítima que tenho todo o direito de assumir. 
Mas desejar nem sempre é poder, ou permitir, 
então engulo o desânimo e a dor 
e sigo a encarar, todos os dias, 
todas as pessoas que sempre 
só perceberão o que te falta, 
sem tempo para entender 
as dificuldades 
do que 
te cabe. 
Assim sigo,
independente 
de como me sinto, 
arrastando os 
dias como posso, 
regatando sonhos, 
tentando acreditar 
que as coisas boas vão sim 
perdurar, enquanto durar 
este pequeno intervalo, 
criado por novos anos 
que tão logo acabam, 
e que aprendemos 
a chamar de vida." 

 SOBRE A RESILIÊNCIA E A VONTADE DE ABANDONÁ-LA, POR LARISSA CARAMEL EM  OBIVIUS

SER MAIS QUE NAMORO, SER RELAÇÃO, SER AMOR

"Olhou e perguntou: “hei, você namoraria alguém que não fuma cigarros como você?”. Pensei em milhares de coisas que eu poderia explicar para aquela moça, contudo resolvi me conter. O tempo ensina melhor. Espero que ela aproveite a vida aprendendo com as oportunidades que o tempo nos traz. A fitei sem demonstrar muita atenção e respondi: “Essa diferença é a menor questão que encontrarás para ter uma relação”."




Os namoros e as relações se diferem. O namoro é a fase da paixão, de conhecer o outro, da insegurança e da inconsequência. A relação é a fase em que o amor entra na história, quando já há o conhecimento sobre o outro, quando há a confiança, o respeito mútuo, a aceitação do que o outro é –sobre as suas qualidades e os seus defeitos – e, sobretudo, quando é possível a convivência. O namoro constrói uma relação e quando, estreitas as relações, pouquíssimos eventos poderão encerrá-las. 

O amor só existe quando cessada a fase da paixão. E há no amor uma beleza incomparável! Tenho encontrado muitos namoros por aí, mas que esbarram em se tornar relações. Os namorados não conseguem resolver os seus conflitos. Não conseguem ultrapassar a fase de levar o ressentimento para a casa, de acumular mágoas e, então, numa discussãozinha qualquer, desabafar, jorrar tudo para fora. A grande dificuldade em um namoro se tornar uma relação é justamente o acumulo das mágoas. Eles não conversam sobre o que aconteceu hoje ou o que estão sentindo, não são completamente honestos e não se sentem confortáveis em ser, não há a confiança que é estabelecida em uma amizade. 

É preciso que o seu companheiro seja mais do que gostar de sexo, ele também tem que ser o seu amigo. A amizade estabelecida em uma relação trata do companheirismo, da aceitação e do respeito. Quando amigos, as pessoas se ajudam, se comunicam, se aceitam – e quando falo em aceitação, falo em aceitar não só as qualidades, mas também os defeitos. E, quando amigos, as pessoas se respeitam. Respeitam o tempo, os outros amigos, os dias ruins e respeitam os silêncios. 

Respeitar os silêncios é o desafio da convivência e este é a base de um relacionamento. Tolerar a convivência é aceitação dos dias em que o companheiro passou por um grande problema em seu trabalho, chega cansado em casa, desejando o silêncio. Ter a nitidez e a confiança de que aquele silêncio não é contra você, é saber respeitar o espaço do outro. A paixão não possibilita isso, contudo o amor necessita dessa tolerância para se tornar o que ele é. 

As pessoas acreditam que irão construir uma relação de longos anos com a pessoa que o faz sentir-se como se tivesse quinze anos. Não! Isso é namoro. Relação se constrói com a pessoa que lhe faz sentir-se maduro. A paixão tem a ver com os desafios, a intolerância, o ciúme absoluto. O amor trata das coisas bonitas e serenas, da maturidade, da amizade e da paz. 

Assim, aqui encontramos um ponto importante: Para nos tornarmos relação é preciso somente do outro? Não. A relação, o amor, começam por você. De você. 

Me questiono demasiadas vezes sobre onde está a dificuldade do futebol de quarta-feira, da noite do pôquer com os amigos ou da “amiguinha”? Onde está o problema com a roupa curta, a noite entre amigas e o cabelo por fazer ou a falta de maquiagem? O problema é a não aceitação, a não confiança, a falta de cumplicidade, a parábola em ser relação. A questão é a cobrança sufocante de querer que o outro seja o que você pensa que você precisa. Você não pode cobrar isso de outra pessoa. Se você deseja amar alguém, precisa aprender a aceitar o que o outro é, e somente assim, se sentirá confortável ao lado daquela pessoa. 

Os ingredientes de uma relação são poucos e, quando praticados, percebemos que são fáceis: companheirismo, respeito e amor. Ah! Se os namorados soubessem o quão é bom ter intimidade o suficiente para ser amigo do seu companheiro! Talvez o mundo estivesse livre de tantas separações... – Alias, o mundo hoje é quem cobra mais. – Cobra tanto que será preciso três planetas para ser suficiente às pessoas que ele vem construindo – uma humanidade cada vez mais competitiva, que finge ser tolerante em suas leis, e, de amor, pouco se pratica. A junção da paz e do amor, embora blasé, ainda é a solução para a humanidade. 

Não há a necessidade de buscar a pessoa mais bonita da cidade, é preciso encontrar um amigo. E, permitindo esta amizade, tenha a certeza: este amigo será a pessoa mais bela, para você. E, no final, é o que importa – você e a pessoa amada, nada mais.  – Olha, moça, os cigarros podem ser apagados, e, ainda assim, aquele namoro não se tornar uma relação. 

domingo, dezembro 14, 2014

14 dias de 12 meses

"O ser humano é dotado de vontade. E pode usá-la para escolher entre o bem e o mal. Se só pode fazer o bem, ou só pode fazer o mal, é uma laranja mecânica – significa que tem aparência de um organismo adorável, com cor e suco, mas que na realidade é um brinquedo mecânico para ser manipulado por Deus ou pelo Diabo ou (que o está substituindo cada vez mais) o todo-poderoso Estado – é tão inumano ser totalmente bom quanto totalmente mau. O importante é a escolha moral. O mal tem que existir junto com o bem, de modo que a escolha moral possa existir.”

LARANJA MECÂNICA, ANTHONY BURGESS

MULHER DESVARIADA

"No final da cerimônia, o pastor gritou o meu nome, fui até ele e me perguntou: “Por que é que chegaste atrasada em todos os cultos?”. Eu pensei duramente durante dez segundos em lhe mentir, mas me recordei que seria uma espécie de pecado tentar enganar o servo do Senhor e lhe fui honesta: “Sabe, senhor pastor, eu penso que os cultos são demorados e tenho demasiada preguiça, então me atraso para que termine mais depressa. Sei, sei, sei, o senhor não precisa dizer! Estou errada! Mas a Ritinha disse que, poderia ser pior, eu poderia ser como aquelas pessoas que não frequentam a nossa igreja. Eu poderia não vir, no entanto, mesmo atrasada, estou aqui todos os sábados.”. O pastor me fitou severamente e respondeu: “É como aquele funcionário que quer aumentar o seu salário mas apenas enrola durante o serviço. Vai todos os dias trabalhar, contudo não produz nada. É trapaça.”."

(Ilustração de Molly Crabapple.)


Causava-me medo tentar decifrar o que existia dentro da cabeça de Inácio e, ainda assim, sou repleta da certeza de que lá, o mundo era mais interessante. Quieto, Inácio parecia não existir. E, por não existir, todos o queriam por perto. Pela inteligência exposta sem receios, a irreverência que chateara alguns e a doçura que aparecera quando menos se esperara, Inácio era bem vindo em todos os lugares. Ele era um bom homem. 

Ao longo de seus quarenta e dois anos, Inácio conhecera Caterina. Caterina fora uma moça inteligente, bonita e doida. Desvariada! À ela não se apeteceria horários, nem regras, muito menos formulas ou zodíaco. Caterina fizera os seus próprios princípios e se sentira desafiada por todos que a subestimavam. A moça era uma competidora por natureza. Não aceitara “nãos”, adorara desaforos e, poderia lhe causar tristeza, mas ela apenas se apaixonara pelos que não se apaixonavam. 

Foi ao quieto e intrigante Inácio que Caterina entregou a sua última gota de amor. A gota d’água. À ele, ela entregou toda a sua devoção, todos os seus desvarios e o seu corpo, em carne e alma. Caterina doou ao amargo Inácio, aquilo que apenas as pessoas de corações corajosos podem doar: princípios. Talvez fosse isso que fizesse Inácio ficar ao redor de Caterina quando todos já haviam ido embora, aquilo que ele nunca recebera dos pais, lhe era entregue por uma mulher doida. 

Inácio, apesar de todas as aventuras e todos os lugares que conheceu, era um homem antiquado. Ele não aceitara o fato de que, quando ninguém o enxergara, se sentia apaixonado pela doida Caterina. Ela falara sobre sexo num tempo onde ainda era opressão, abordara os outros homens com carinho e sem remorsos, não era mocinha de pernas-cruzadas e bons costumes, então, o que é que aquela mulher haveria de ter que era tão atraente? 

A consideração. Apesar da falta de modos, o coração daquela mulher era lindo! Enquanto Inácio se divertira com mil e uma mulheres, Caterina parecia esperar Inácio. Ela entendera que Inácio não firmaria com ela um compromisso de fidelidade, no entanto ela sempre acreditou no homem ser-humano. Para Caterina, há homens e mulheres quais são apenas homens e mulheres. Contudo, ela acreditara que tanto os homens, quanto as mulheres, poderiam se tornar seres humanos. Poderiam se encher da humanidade simples e bonita. 

À aquela mulher, não importara as regras e as boas maneiras de uma sociedade: drogas proibidas, sexo como libertinagem, más-línguas e dez mandamentos. Não... Para aquela doida, o que importara era a bondade das pessoas. Os seus princípios eram a fé, o respeito, a compaixão e a consideração. Princípios que resumiam o que, para ela, era amor. 

A consideração equivale ao homem que anda pelas ruas, quando uma senhora tropeça, derruba suas compras e ele a ajuda a se levantar, e a resgatar as suas compras jogadas ao chão. O amor equivale ao homem que a ajuda a se levantar, pega as compras e acompanha aquela senhora até a sua casa. 

Consideração é algo minúsculo que todo o homem e toda a mulher necessita ter para se tornar um ser que é humano. Quando Inácio atacara as mulheres, e as amigas, que rodeavam Caterina, ele não tinha consideração para com ela. Ele não era um homem com alma humana, ele era apenas um homem, que às vezes se revelara bom e, noutras vezes, era quieto. Quieto ao ponto de se tornar omisso. Um erro grave à ser cometido por uma pessoa é a omissão. Enxergar algo, e não exteriorizar, é como perder uma oportunidade. 

Ser omisso equivale ao homem que anda pelas ruas, quando uma senhora tropeça, derruba suas compras, e, então, ele não a ajuda a se levantar. Ser medíocre equivale ao homem que não a ajuda a se levantar, passa por ela de cabeça erguida e ainda pisa em suas compras. Acredite – há homens com tamanha crueldade. Acredite – Caterina ainda preferira caminhar sozinha do que estar ao lado de pessoas não-humanas ou medíocres. 

Mas, Inácio, como já dito, era um bom homem, embora não humano. Ele perseguira as injustiças em seus discursos e, por descuido, não percebera que era um homem injusto. Não notara a falta de consideração que ele praticara com Caterina. Talvez este seja outro erro: ser leviano, se descuidar, não se importar tanto assim...

Aos que não se importam, a vida passa depressa e sem flores durante o caminho. Aos que se descuidam, perdem oportunidades valiosas de fazer a vida ser bonita. Aos levianos, que tentam enganar a vida e a eles mesmos, é como um tormento – tudo lhes é fardo, é pesado, é injustiça – mas, em realidade, são eles mesmos que dramatizam a vida. 

Caterina soubera o caminho que Inácio tentara trilhar – o caminho tortuoso. Ao deitar, todas as noites, ela se desculpara com o seu deus por não conseguir fazer Inácio enxergar os encantos da vida. No entanto, acho que a própria Caterina não se desculpara. Inácio fora um desafio perdido, um homem que ela não conseguira encantar, alguém que não se jogou aos seus pés. Mas, porquanto, uma qualidade daquela mulher doida – ela soubera desistir. Fechou o livro e iniciou uma nova leitura.

quinta-feira, dezembro 11, 2014

A.

"Toda a gente tem medo da intimidade — ter ou não ter consciência desse medo é outra história. A intimidade significa expor-se perante um estranho — e todos nós somos estranhos; ninguém conhece ninguém. Somos mesmo estranhos a nós próprios, porque não sabemos quem somos. 
A intimidade aproxima-o de um estranho. Tem de deixar cair todas as suas defesas; só assim a intimidade é possível. E o seu medo é que se deixar cair todas as suas defesas, todas as suas máscaras, quem sabe o que o estranho lhe poderá fazer. Todos nós andamos a esconder mil e uma coisas, não só dos outros mas de nós próprios, porque fomos criados por uma humanidade doente com toda a espécie de repressões, inibições e tabus. E o medo é que, com alguém que seja um estranho — e não importa se se viveu com a pessoa durante trinta ou quarenta anos; a estranheza nunca desaparece —, parece mais seguro manter uma ligeira defesa, uma pequena distância, porque alguém se poderá aproveitar das suas fraquezas, da sua fragilidade, da sua vulnerabilidade. 
Toda a gente tem medo da intimidade. O problema torna-se mais complicado porque toda a gente quer intimidade. Toda a gente quer intimidade porque, de outro modo, está sozinho neste Universo — sem um amigo, sem um amante, sem ninguém em quem confiar, sem ninguém a quem abrir todas as suas feridas. E as feridas não saram se não forem abertas."

OSHO, em "INTIMIDADE"

OUTRA VEZ É NATAL

"Eu estava perto dos dez anos de idade quando me deparei pela primeira vez com a injustiça. Diego, treze anos, forte e filho de papai rico, derrubou o lanche de Luan, oito anos, negro, filho do funcionário de pai de Diego, pisou em cima do sanduiche que a mãe de Luan preparara com todo o amor materno que se espera de uma mãe e, disse, “tempero especial pro nêguinho”. Me calei. Retornei da escola para a casa num total e misterioso silêncio. Mamãe insistia em saber o que acontecera comigo, e eu lhe repetia: “nada, nada”. No outro dia, sem hesitar, coloquei pimenta, muita pimenta, no sanduiche de Diego. Enquanto chorava ao lavar a boca que ardia, eu lhe disse: “tempero especial para o branco”. Na volta, meu sorriso era estonteante. Cheguei correndo para contar para o papai o meu ato de coragem e justiça, mas, de repente, a surpresa. Papai deu um tapa em minha mão e avisou: “Tome cuidado para não combater crueldade com crueldade.”."



Mas outra vez as pessoas se preparam para o Natal. E, cá estou eu, meu amigo, em mais um dezembro de reflexões. Ah! Meu mês do ano favorito! Seja pela união das famílias ou seja pelo tempo que encontro para retornar a casa nove, deitar no colo de minha mãe, pedir desculpas e conselhos. Eu venho a trilhar um caminho sem cores e me apetece demasiadamente enfeitar essa trajetória. Encontrei supina dificuldade para cultivar flores nessa estrada, mas o mar nos pede outra vez: paciência, paciência e paciência, o meu presente chegará. 

Conheci um rapaz. Ele é como você, meu amigo. Mesmos traços e mesmos defeitos: solidão. Olhar para ele é como enfrentar um espelho que reflete o meu passado e, me surpreender, eu perdi o controle. Eu finalmente entendi o que acontecera todas as vezes que você me ferira, não era falta de amor, era excesso de solidão. Você saía dos trilhos, dava-lhe as costas e, mesmo com o barulho do apito, não queria lhe dar a sua confissão. – Não se preocupe, não cometerei os seus erros. – Eu irei me confessar. 

O poeta nos disse que é impossível ser feliz sozinho. A felicidade só nos é completa quando podemos compartilhá-la com as pessoas que amamos. Mas para nós, que nos perdemos, só o que nos resta são estas cartas não endereçadas que se comunicam em segredos e dividem experiência, no entanto não suprem a falta de um abraço. Eu espero que tu estejas feliz e que, no seu caminho, não exista mais espaço para a solidão. 

O rapaz que eu conheci é cheio de discursos. Enquanto eu o escuto em seus discursos, não tão ensaiados, sobre política, me questiono onde fica a sua generosidade. Ele ainda não compreendeu que criticar os que estão lá em cima, não faz diferença quando não somos bons com os que nos rodeiam aqui em baixo... Afinal, nós bem sabemos, os pequenos atos que mudam o mundo começam por nós.

Ele também desvia a atenção dos dias mornos com analgésicos e músicas sem letras. Não sei se foge da própria solidão ou se, por algum motivo, tem fé de que sozinho haverá paz. Às vezes percebo que ele também está perdido e que, da vida, ele quer poucas coisas. Eu sei que você espera que eu conte, nesta carta, as palavras que eu doei ao rapaz sobre esperança, amor e futuro. Mas eu não o fiz. É que, preciso dar-lhe a minha confissão, eu me perdi. 

Já se passaram três anos e a vida é mais leve. Eu trilhei o meu caminho sem a sua presença, meu amigo. Eu escolhi ser só. Por mais que a minha alma suplique sair voando por aí, eu já me desacostumei com a companhia das outras pessoas. Elas chegam aqui, sentam no sofá, nós deixamos de lado os tabus sobre sexo e drogas, mas de amor – ah! De amor nós não falamos nada... 

A humanidade caminha para um futuro preto e branco. Todos os dias, quando acordamos, o telejornal nos traz as novas diretrizes: assaltos, crueldade e a depressão, o mal do século. Os jovens se encontram solitários todas as sextas-feiras em noitadas e são restritos em suas frases prontas do não-amor: “não quero namorar, amar é sofrer, ser solteiro é mais divertido”. Contudo, retornam às casas de número nove, sozinhos e com a sensação de tristeza. É por isso que eu ainda me encanto com as pessoas que fogem dos discursos prontos e têm a coragem de gritar aos quatro cantos o que elas desejam. Por isso que me desperta encanto estar ao lado de quem não usa máscaras.

É árduo se colocar em frente ao outro de alma limpa quando não se tem mais quinze anos e, por não ter mais quinze anos, somos assombrados com o medo de nos tornarmos ridículos, ao mesmo tempo que, quebramos todos os tabus do que antes era insegurança. Nós sabemos como são as pessoas e o preço que iremos pagar ao nos entregarmos a elas, mas já perdemos a noção da hora, pedimos outra bebida e a noite termina como todas as outras: sexo sem muita conversa, dividir corpos sem que aconteça algum encanto e, no outro dia, nem oi, nem ligações. 

Nós nos fechamos para o amor. E, meu amigo, que sentido há na vida se não tivermos alguém para amar? Nós cometemos todos os dias os mesmos erros, com as mesmas pessoas e aqui dentro só nos resta o mesmo vazio aberto há mais de vinte anos quando deixamos a barriga de nossas mães. – Deixei de ser dois, eu e minha mãe, e passei a ser um. O destino de todos nós...

Esse um que, apesar dos tropeços da vida, tenta semear as boas coisas que já aprendeu. Eu me perdi e já me confessei, meu amigo. Mas eu quero retornar aos trilhos, porque eu ainda acredito em tudo aquilo que eu lhe fiz acreditar. É preciso muito mais que dias monótonos e vidas secas, é preciso que, ao fim de nossas vidas, tenhamos fôlego para contar sobre os fôlegos perdidos com um amor – aquele amor – que desafia ao mesmo passo que nos fornece paz.

Eu preciso arrastar os móveis do lugar e preciso me divertir no sol. Eu necessito resgatar a criança que combatia a crueldade, que olhava as pessoas com o brilho nos olhos e que de amor... Ah! De amor falava pelos cotovelos! Porque é o amor que nos move. Tu te lembras? "Se eu não te amasse tanto assim, talvez não visse flores por onde eu vim e, vivesse só, na solidão...". Eu me recordo e cultivo flores. Eu preparei o meu coração para voar.