Apetece-me poucas coisas. Já sonhei mais, hoje quero apenas que simples coisas me invadam e me façam sorrir. Não tenho a pretensão de fazer as melhores coisas, nem quero possuí-las. Quero somente poder amar aquilo que tenho.
Eu permaneço sentada em meu canto e observo as pessoas. Elas idealizam suas vidas. Elas idealizam suas vidas de maneiras iguais. Você nasce, vai à escola, depois à faculdade, arruma um bom emprego, casa, tem filhos, até que a morte vos separe e separou, – morreu. – Eu não tenho certeza se eu quero fazer as mesmas coisas, do mesmo jeito, da mesma maneira em que manda o figurino.
E se eu quiser parar? Se eu não quiser seguir o mesmo caminho? Se eu tenho medo de me tornar mais uma dessas pessoas tristes que procuram terapeutas, drogas ou amantes para disfarçar suas dores, erros e fracassos. – Notem que isso não foi uma pergunta.
Se eu não dou importância para dinheiro. Se a minha vida for só isso: uma casa simples, uma caneta e um papel. Se eu apenas quiser viver cada dia como se fosse o último... Irão me chamar de quê? Jovem. Irresponsável. Doida. Dane-se!
Sei que sonharam grandes planos para minha vida, desculpe não ser a filha que vai realizá-los. Eu não quero grandes coisas e não pensem que eu estou mal. Não me levem à médicos, amigos, igrejas e nem encham minha comida de vitaminas. Não preciso de todos estes remédios. – Eu apenas não concordo com essa vida. – E não me sinto preparada para concordâncias, maturidades ou para usar corretamente a língua portuguesa.
Livrem-me dos seus discursos. Essas palavras como entram, saem. Eu amo vocês. Eu admiro vocês. Mas eu não quero me tornar isto: escrava do trabalho, infeliz com o casamento e preocupada com as dividas no fim do mês. – Não pensem que irei fugir de alguma coisa, não irei. Eu só não fiz a minha escolha.
Não quero que me digam que sou apenas mais uma adolescente revoltada, não sou. Adolescentes revoltados precisam de um motivo para se revoltar e querer chamar atenção. Eu não quero chamar atenção. Eu não tenho pretensão nenhuma em me destacar. – Eu estou apenas vivendo. – E Os Senhores não me criaram para ser somente mais uma adolescente.
É que todos os dias eu acordo e me pergunto: “E se eu não existisse?”. Que falta eu faria para este mundo se eu não tivesse nascido? Sendo mais uma dessas pessoas que idealizam a vida conforme a televisão da sala manda, eu não farei falta alguma. Mas e se eu seguir outro caminho? Darwin foi o gênio da genética, Hitler foi o demônio dos Judeus e Ciganos, Colombo descobriu as Américas, Clarice Lispector escreveu os pensamentos das moças apaixonadas, Michael Jackson nos ensinou a dançar e dizem que alguns homens já foram até a Lua. – Fariam falta. Fizeram história. E eu não quero ser nenhum deles.
Mas eu não quero ser vocês, nem ela, nem ele, – não aquele. Eu quero ser “eu”. Batam portas aos clichês, mas eu só quero ser eu. Poupe-me do seu inglês, francês, espanhol. As pessoas irão gostar de mim da maneira em que eu sou. Eu não tenho que ser doutora, delegada, atriz ou modelo. Eu só preciso ter bom coração. O resto vem...
O resto eu faço. – Eu vou vivendo. Prometo não sumir, nem fazer grandes loucuras. Não tenho minhocas no lugar dos miolos. Só quero viver, ir vivendo, fazer vida. Mas vida do meu jeito. Sem pressa, sem máscaras, sem grandes mudanças. Eu vou viver a vida por aí...
– Pois vocês acham que eu estou errada?
– Você está.
– Ora! Então vocês acham mesmo que os grandes gênios foram politicamente corretos e amaram a Deus sobre todas as coisas?
Não é ser um gênio. É que as pessoas não são totalmente certas ou totalmente erradas. O fato de Sr. Kobain doar milhões à um orfanato, não o livra do assassinato de seu sócio. As pessoas são feitas de atitudes. Somos todos momentos. E acreditem: – só me tornarei boa o suficiente se eu souber errar.
Deixem-me errar.
Deixem-me ser.
Um comentário:
Muito bom!!
Se tem algo que quero ser, é ser eu mesma!
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