"Analisou cuidadosamente a minha reação de espanto e perguntou: "Em que ovos você pensou que iria pisar?". "Não eram ovos", respondi. Eu imaginei flores e pontes sobre rios de tristezas. Sonhei em percorrer estradas frias enquanto o meu coração mantivera-se quente. Não queria ser atingida por essa falta de fé que contamina o mundo... O meu desejo era preencher as lacunas de outras pessoas. Nunca pensei em completar os meus próprios espaços. Creio que nunca fui egoísta e, se fui, então fui descuidada. Como eu estava dizendo, eu imaginei flores pelo caminho e quando comecei a caminhar, percebi que a minha missão era plantá-las. Esse é o erro: desejar um jardim sem colocar as mãos na terra."
Perdoe-me a demora, meu amigo. Há tempos que não lhe escrevo. Não por falta de palavras, pois tu bens sabes que elas me sobram. Mas por angustia. Ando demasiadamente rasa. Esperando que algo me preencha e me faça transbordar. Ah! Doce amigo! Eu sinto muito por ter me modificado tanto! E por essas mutações me afastarem de você...
Tenho pensado muito sobre despedidas. Acredito que, no momento, elas me atormentam porque os velórios voltam a bater em minha porta. – O que é uma despedida? – Um abraço, um adeus, um eu te amo... – Que valor tem um breve momento de se despedir perto de uma vida inteira ao lado de alguém? As despedidas são desconsideráveis, meu amigo. O que importa é tudo o que fazemos enquanto vivemos ao lado das pessoas que nos são importante.
A tortura se encontra no meu bloqueio de exteriorizar. Essa minha contradição sufocante em desejar algo e me privar por medo de correr na direção contrária, de fechar portas sem ao menos tentar passar por elas...
Nós mudamos tanto, não é? Admiramos o desamor e todos aqueles que, silenciosamente, alimentam o medo de se entregar. O ego parece mais importante que transmitir bons sentimentos. Nós valorizamos a liberdade irreal de não nos prendermos e, como tolos, estamos sendo covardes. Eu não encontro sentido nas distâncias em que criamos.
Eu só consigo imaginar uma vida onde você está perto, meu amigo. Nesses adágios, há ocasiões em que não trocamos uma sequer palavra e então compreendemos que o silêncio é capaz de uma comunicação finita. Talvez o nosso grande erro esteja em não calar. A dádiva da palavra é cultivá-la antes de jogá-la para fora. Eu sei que os nossos silêncios não estão cultivando frases, mas paralisando-as.
Será que tu podes me enxergar? Será que tu sabes como a saudade não me abandona? Ah, meu amigo! Será que imaginas como o teu sorriso pode mudar o meu dia? Eu decidi que não irei me despedir. Embora a minha mente persevere na ideia de ir-me, meu corpo encontra-se imóvel, persistente em seus braços.
Se tu soubesses todas as coisas que eu lhe desejo... Pena que essa roda vida não vai parar nessa estação. Pena que não é primavera. Pena que tu vais partir de novo... o meu coração. Só lhe peço a delicadeza de evitar as despedidas.