“Saudade”, palavra unicamente brasileira. Não deveria ser levada tão a sério. Mal deveria existir, bem digo. Saudade é um sentimento meio invocado. Com tantas definições! Vira e mexe, a gente acha uma definição de saudade. Vira e mexe, a gente se destrói com alguma definição de saudade.
Saudade da mãe, do pai, do avô, da avó, do irmão, da namorada... Saudade do passarinho que voou. Saudade do cachorrinho que fugiu ou morreu. Saudade da comida daquele restaurante que ficava na esquina da minha antiga casa. Saudade do tempo de felicidade...
Não que não sejamos mais felizes, nem que éramos mais felizes naqueles dias. Mas... saudade! Ah! Saudade! Que cala, que fere, que derrama lágrimas, que nos traz lembranças...
Saudade a gente representa nas reticências, ou, das vezes – até a exclamamos: “Saudaaaade! Que saudade!”.
Saudade do que se foi, do que valeu à pena viver, do que era real. Saudade a gente deixa moer o fundinho do coração.
Saudade, às vezes, a gente mesmo constrói. Ou, a gente evita.
Saudade a gente tem do sonho que não se realizou. Da peça de teatro que a cortina não abriu. Saudade do que não terminou. Saudade do que nem começou...
Saudade daquele fim de tarde... Saudade daquela noite chuvosa... Saudade do calor em baixo dos cobertores... Saudade do chazinho que a mãe aprontava quando nos sentíamos resfriados; E levava na cama; E passava a mão macia no rosto e dizia com aquela voz preocupada que só as mães têm: “Toma, filhinho! Toma o chazinho que a mãe fez. Assim você melhora...”.
Saudade da época que a gente andava de bicicleta com os moleques da rua. Saudade do dia que a diretora pegou a gente furando a parede do vestuário das meninas. Saudade das broncas do nosso pai, pedindo-nos responsabilidade: “Acordar cedo! Nada de chegar tarde, moleque! Não vá dirigir bêbado! Olha com quem você anda!”. Saudade dos olhares de saudades dos nossos pais, que nos olhavam parados, imaginando o futuro, recordando o passado: “Como meu filho cresceu...”.
Saudade da primeira namorada. Da primeira bicicleta. Do primeiro vídeo-game. Dos primeiros anos de escola. Do primeiro carro. Do primeiro porre. Dos primeiros amigos. Dos amigos que a gente leva pela vida... E dos amigos, que a vida, já nos levou.
Saudade daquela pescaria. Saudade do primeiro livro. Saudade daquela banda de rock. Saudade daquela música. Saudade daquele filme. Saudade...
Saudade daquele sapato que quebrou o salto. Saudade daquele batom. Saudade daquele vestido velho. Saudade daquela noite de pijama na casa das amigas. Saudade da boneca com cheirinho de café. Saudade do grupo musical que dançava aquela coreografia “breguinha”, mas que na época, óh! Saudade...
Saudade a gente vive tendo. Não é? Saudade do cheiro, do sorriso, do olhar, do jeito, do momento...
Saudade a gente leva com a gente. É toda vez que a gente senta, e ela vem... É involuntário.
A saudade é meio inconveniente. Meio chata. Meio sem direção...
E eu só tenho um remédio para a saudade: o abraço.
Ah! O poder de um abraço bem dado! Daqueles que sufocam. Que o calor da outra pessoa passa pra gente... Aquele abraço que nos acolhe, que se encaixa, que manda a saudade pra bem longe.
Um comentário:
SAUDADE I
Saudade...
É o vento que vem de longe,
Dedilhando o teu nome
Em forma de canção.
Saudade...
É a tua lembrança,
Que mantém viva a esperança,
Dentro do meu coração.
Saudade...
É quando amamos,
Quem já não temos,
Em uma eterna paixão.
SAUDADE II
Saudade...
É expressar a dor febril,
Na caligrafia frágil
De uma triste canção.
Saudade...
É o teu retrato
No meu porta-retrato,
Alimentando a minha paixão.
Saudade...
É quando choramos
Por quem já perdemos,
Mas que vive em nosso coração.
(Diogo Pivatto)
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