Respeite o tempo. Possivelmente eu mudei de opinião.

quinta-feira, junho 30, 2011

E.

MIL PERDÕES
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Te perdôo.
Por fazeres mil perguntas,
Que em vidas que andam juntas,
Ninguém faz.
Te perdôo.
Por pedires perdão,
Por me amares demais.

Te perdôo.
Te perdôo por ligares,
Pra todos os lugares,
De onde eu vim.
Te perdôo.
Por ergueres a mão,
Por bateres em mim.

Te perdôo.
Quando anseio pelo instante de sair,
E rodar exuberante,
E me perder de ti.
Te perdôo.
Por quereres me ver,
Aprendendo a mentir.
(te mentir, te mentir).

Te perdôo.
Por contares minhas horas,
Nas minhas demoras por aí...
Te perdôo.
Te perdôo porque choras,
Quando eu choro de rir.

Te perdôo.
Por te trair.

ROMA|AMOR que não é AMOR|ROMA.

O amor é a força que move meu corpo. Nada sou sem amor. – Se o ódio me habita, torna-me desumana. E a humanidade talvez seja isto: desumanidade.“

Era um pôr-do-sol daqueles brilhantes, e ele insistia em andar na direção do sol. Meus olhos não agüentariam por muito tempo, eu teria que fechá-los. A dor foi mais forte, pensei. – E hoje tenho a certeza de que estava errada. Eu fui mais forte, porque pude esperar.
Esperei por todos os detalhes daquele coração. Como se tivesse sido feito para mim. E teci todas as memórias dos erros passados, como se fossem lições para a vida inteira. Nenhum mandamento de Deus falou por si, eu tive que experimentar o pecado e a dor que vem dele. Eu tive que me jogar contra a maré e tentar alcançar as nuvens com as mãos. Fazer o [im]possível.
Fazer aquilo que eu não me diria capaz. Tive que sofrer, chorar, e manter-me parada. Calei-me diante da partida de meu corpo. Fiz-me pecadora, mesmo sem provar da hóstia.

O destino foi traiçoeiro. Eu tive que aceitá-lo.
O coração partiu-se em dois. Eu tive que fazê-lo bater ainda assim.
O caminho trouxe-me encruzilhadas. Eu tive que fazer minha escolhas.
As escolhas nem sempre foram certas. Eu tive que aceitar o triunfo e a derrota.

E a única coisa que eu soube fazer foi pintar os lábios de vermelho. Perdi a calma. Agi por impulso. Fui desumana e odiei aquilo que eu amava. Odeio aquilo que fui. E hoje sei que nunca saberei o que sou. O que sou é incerto. A certeza me abomina. O subestimado me atrai. E a canção quer sempre se renovar...
“Cubra-se de ouro”, disse o rei. “Dai-me as moedas”, pediu o escravo. E eu nunca saberei a gramática corretamente. – Só entendo uma língua: a do meu coração.
As mulheres vagabundas dizem-se feministas. O feminismo não é ter vários homens. O feminismo é não depender de nenhum. – Há grande diferença.
As crianças falam sobre sexo. O sexo não lembra mais o amor. O sexo virou sacanagem. E o amor virou mentira. – Nada sobrevive.
O mundo quebra-se ao meio. Terremotos. Furacões. Frio no lugar do calor. Calor no lugar do frio. – O caos.
E eu só queria me esconder da vida. Mas não pude. – Dizem que o sorriso deve aparecer no rosto, de qualquer maneira. E eu odeio falsidade.
A honestidade é proclamada por quem trai. A traição é julgada por quem erra. O erro é amar. – Os loucos amam. Os sábios julgam. – E julgar não é mais pecado.
Eu tenho medo do mundo lá fora. O mundo lá fora quer ter minha coragem. Minha coragem quer você de volta.
Eu não conheço concordâncias. Eu não sei não me contradizer. Qualquer amor que me dê atenção, poderá me fazer feliz.
Felicidade é simples.
Meus olhos são fracos e pareço enxergar mais do que devo. Observar – nunca foi tão ruim. Ter atenção é desconfiar. E cobram-me confiança num mundo de pessoas falsas.
O poético é bizarro. A personalidade se vai com a moda. Tudo acaba em questão de minutos, e dali um minuto: – nada faz sentido.
Eu chamo isto de “pobreza”. Mas quem sou eu para criticar?, penso.

Meus olhos não podem alcançar o sol. Minhas mãos não podem avistá-lo. Estou tão longe... Sinto tantas saudades! E tenho de me manter viva.
Vivo em palavras.

sexta-feira, junho 10, 2011

A.

"Eis aqui um que não fará grande carreira no mundo. As emoções o dominam."

Dom Casmurro, Machado de Assis, 1899

Tendo amor. O resto é... resto.

A ironia é que eu não me sentia ameaçada. Qualquer que fosse a sua reação, era maravilhosa. Eu o via como a coisa mais linda. Era o meu objeto mais precioso. Suspirava a fumaça dos seus tragos em cigarros Cubanos. Gostava de ficar deitada em sua cama, olhando-o fumar na varanda; Enquanto a luz da lua refletia sobre ele e ele se perdia na escuridão de seus próprios sonhos. Pois ele sonhava. Mesmo com todo aquele ar discreto e confiante; Ele era um sonhador. Vivia por sonhar um futuro que eu desconhecia, mas sei que era lindo. Eu poderia apostar que ele sonhava com festas, mulheres e grandes jogos de pôquer; Pois não. Não. Eu aposto em flores. Ele sonhava com flores e qualquer que fosse a flor, ele poderia sentir o perfume. Esta era a alma que ele tinha quando estava ao meu lado: Não um Jardim. Ele era o Jardineiro.
E eu não sei se sinto vontade de saber sobre as almas que ele possuía estando ao lado de outras mulheres. Eu só sei que, de fato, ao meu lado ele tinha uma única alma; E aquela era apenas minha. Minha como um próprio objeto. Pois se passaram meses e eu ainda posso descrevê-lo com detalhes. Lembro-me dos seus gostos; Não me esqueço do seu rosto, seu cabelo, sua pele, seu jeito. E escrevo pensando em seus olhos. É simples. Fecho os meus, e enxergo os olhos dele. Olhos lindos, por sinal. Conforme o sol, eram meio esverdeados. Mas ainda me lembravam os olhos de uma cobra.
Talvez ele fosse o monstro que todos costumavam dizer. Não me importo. Para mim e só para mim, ele era qualquer coisa que me fazia feliz. Que mais eu poderia pedir? Não é este o plano? Achar alguém que te faça feliz e ponto.  –  Exigir qualidade seria uma desfeita, quando o meu sorriso era completo ao seu lado.
Ele até poderia ser um pouco falso. Poderia usar máscaras e me levar na conversa.    Eu não ligava.  – Aquilo era lindo: Ele tentava me convencer de que ele era uma boa pessoa e, de que era Eu quem Ele amava. E eu ainda não sei se ele poderia realmente amar. Tinha tantas formas de amor presas dentro dele, que minhas definições de amor pareciam não caber ali.
Houve dias em que eu me senti apenas um objeto sexual. Uma prostituta, propriamente dito. Levava-me para a casa dele, me fazia dormir em sua cama; E n'outro dia parecia não lembrar o meu nome. E houve dias, em que eu era apenas uma boa companhia. Alguém para conversar, para exteriorizar suas idéias, para ter a ambição de abraçar um mundo junto dele. Mas nunca. Nunca mesmo eu me senti a sua namorada ou a amiga. Era como se sempre houvesse um abismo entre nós. Eu era a doce menina; Ele era o cara malandro.
Aquela barba mal-feita, aquele cabelo comprido, aquele corpo magro desengonçado e aquele gosto por Rock anos 60... Eu era apaixonada por sua coleção de livros e CDs. Amava o toque do seu violão e me perdia quando ele cantava ao pé de meus ouvidos. Como se eu fosse livre dentro de quatro paredes. Qualquer minuto ao lado dele equivalia horas voando no tapete mágico. Eu me sentia assim: Cheia de coragem.
Então o amor era isso. Era aquele sentimento forte que nos encorajava a continuar. O amor era, senão a única coisa que as pessoas precisavam ter para se sentirem vivas. Nada de cobranças. Nada de idealizações.  –  O amor era simples.  –   Era fácil: “Deixa estar!”. Deixa ser este sentimento natural e ele viraria amor. Amor daqueles lindos. E, aos poucos, um encontraria o outro de maneira que, não haveria mais encantos e nem conquistas, seriam dois em uma alma só. O amor deve ter este poder: Matar dois, Criar apenas um.

Que mais eu poderia querer? Eu era feliz.

* * *

O Começo de "O ANJOMOSNTRO".
30 de Maio de 2011.

* * *

Cita-se:

“It’s easy. All you need is Love. Love... Love is all you need.”
(The Beatles, 1967)

segunda-feira, junho 06, 2011

For more than a Monday. (...)

OS QUE ESQUECEM ANTES DE AMAR
Nelson Rodrigues
21/02/1698

"Ontem, um médico me confessava o seu espanto. Os nossos jovens, de ambos os sexos, esquecem antes de amar e sentem o tédio antes do desejo".

E.

LOVE OF THE LOVED
The Beatles, 1962.
Composição: Lennon e McCartney.

Each time I look into your eyes
I see that there a heaven lies
and as I look
I see the love of the loved.
Someday they'll see that from the start
my place has been deep in your heart.
And in your heart
I see the love of the loved.
Though I said it all before
I will say it more and more,
now that I'm really sure
you love me.
And I know that from today
I'll see it in the way
that you look at me
and say ah you love me.
So let it rain, I'll never care?
Deep in your heart, I'd still be there.
And when I'm there
I see the love of the loved.

So let it rain, I'll never I care?
Deep in your heart, I'd still be there.
And when I'm there.

I see the love of the loved.

quinta-feira, junho 02, 2011

E.

de
NELSON RODRIGUES





"A morte é um grande despertar."





O ANJOMONSTRO.

“Calma, Don Juan. Não posso fazer nada a respeito. Acalme-se e entenda: Sou romântica. Para mim, viver é isto: Não há amor sem vida, Nem há vida sem amor.”

Seus pés eram gélidos. Sua boca cheirava erva doce. Seu cabelo tinha a maciez de uma pétala de rosa; Enquanto suas mãos eram ásperas feito madeira. Vestia-se sempre de roupas escuras. Tinha barba mal-feita, cabelo despenteado, e uma voz afinadamente grossa e encantadora. Então, mesmo com seu jeito sombrio – lembrava-me um anjo. A combinação perfeita.
Pedia-me sempre cinco minutos de atraso para que ele pudesse me abraçar em baixo das cobertas. Cobria-me de mimos. Era cavalheiro o bastante para acender o meu cigarro. Cobrava-me imperfeições, tinha horror ao politicamente correto. E durante o dia sempre usava óculos escuros; de certo, faltava-lhe colírio. Se é que vocês me entendem.
Chegamos a dividir a escova de dente várias e várias vezes. Comia, dormia e lia, somente nas horas que lhe apetecia. Não trabalhava, não estudava, vivia de música e arte. Vivia de noite. A noite era sua companheira e eu tinha de dividi-lo com ela. Com a noite e com as outras mulheres. Vadio, mulherengo, boêmio e lindo. Olhava-me, encarava-me os olhos e deixava-me totalmente tonta e tímida. Tinha olhos que pareciam ser de cobra. E rogava-me medo daquela fúria, daqueles disfarces, daquele anjo disfarçado em monstro. Daquele monstro disfarçado em anjo.
Era uma incógnita, um mistério. Um cálculo matemático [in]finito. Não tinha resoluções, nenhum resultado. Não havia como desvendar seus segredos. Chamei-o de Don Juan.
Don Juan, que amei como só se ama uma vez. Que devorava-me o corpo e o coração. Que habitava meu mundo. Que me enlouquecia, me deslumbrava, me entorpecia; e depois ia-se embora... Meu caso de tempo perdido. Meu adoçante de café. Meus orgasmos mais intensos. O meu queima-roupa e lava-pé.
Don Juan tinha uma caixinha de sonhos. Onde ele escrevia seus pequenos almejos em papeizinhos e jogava-os lá dentro. Trancava a caixa às sete chaves. Algo lhe despertava medo de sonhar. Talvez ele sonhasse muito alto e soubesse que nunca realizaria nada. Talvez ele já tivesse sofrido grandes desilusões. Ou talvez, todos os seus sonhos eram fruto das estradas que percorreu. Pois viajou por mares e lagos, vinis e lugares, buracos e negritos, minas e armadilhas, estrelas e florestas; Percorreu o mundo e vários mundos, atingia graus indecifráveis de reflexões, tomava doces e sabia seus mapas. Don Juan, mentia para si mesmo e acreditava.
E todo o meu encanto nunca foi regado por sua beleza. Conquistava-me pela sua forma bonita de olhar-me, de querer-me e, sobretudo, por tentar entender-me e parecer não conseguir. Além do mais, tinha algo nele que me encorajava a viver: Sua mania de desafiar.
Levava-me às nuvens. Despertava-me a alma mais pura e negra em aventuras desleais. Fazia-me suspirar e respirar euforicamente seu amor e sua história. Jogava-me sobre a mesa de passar roupa e amava-me sem esforços, sem vergonhas, e sem resenhas. Não tinha limites; Nem controles. Não tinha regras. Não tinha família. E falava inúmeras línguas. Don Juan, não tinha nome.
Como pude amar alguém que possuía um pseudonome? Que eu nunca soube quem era de verdade. Que eu desconhecia. Que toda e qualquer atitude era sempre uma surpresa... Pois sei a resposta. Don Juan, foi projeto dado-me para aprender: O amor, nada mais é que, amor. Para o amor não existe pretensões, não são contadas as qualidades, nem são exigidos juramentos de verdade e nada mais que a verdade. Ama-se, – simplesmente.
O anjo-monstro que me despertou a vida e a morte. Que me apresentou sabores inanimados. Que parecia abordar um saber empirista. Que nasceu para destacar-se sem dizer uma só palavra. – Foi este, foi meu monstro em corpo de anjo, que me deu as mãos para o amor.
Amor tão sublime. Tão triste. Tão imaturo. Amor de criança. Amor de Don Juan. Don Juan, que morreu.
Na mais tecida e bordada de suas aventuras. Morreu em sonhos e favores. Don Juan se foi. Bateu com a cabeça numa pedra e quicou as mulas. Sexo já não lhe faz falta. Amor é desconhecimento. Nuvens brotam da terra e o céu tem flores. Don Juan se foi, morreu com suas mentiras, apagou nossas verdades. Foi assassinado num beco sem saída, por mulheres famintas de amor. Mulheres que tinham sede de vingança. Desvirginadas que perderam o controle e suas castas. Que foram iludidas. Que não souberam aceitar a vida que foi posta ao anjo: ser monstro.
O corpo foi estrangulado, esfaqueado, depois decapitado. E houveram partes queimadas que, honestamente, não quero citá-las. No jornal correu boatos que os peritos acusaram as assassinas de fazer sexo com o defunto. (...) Mataram meu anjo.
Sentei desconsolada ao lado do túmulo. Despi-me da alegria que ele sempre me trouxe. Chorei mais que os pingos de chuva que caíram naquele cemitério. Eu era a única viúva daquele monstro. Porque somente eu amei-o sem rancor. Implorei à aquele Deus que, minha falecida madrasta rogava, para que trouxesse-o de volta. E nada.
Depois de anos de mentira. A verdade foi a própria morte. Sem metáforas. Don Juan estava morto.
Que crime! Que pecado! Que loucura vinda da luxúria! Dez virgens, um soldado morto, e uma doce viúva tristonha.
Nenhuma droga poderia dar-me prazer. A loucura já me habitava e eu queria poder ver seu espírito. Agora, eu era uma viúva sem aliança que freqüenta um Centro Espírita. Que vergonha! Eu que mal tinha religião, que mal sabia a cor da fé, que nunca fui atrás de milagre algum... Estava desesperada por um sinal de Deus. Um sinal onde ele me dissesse: Seu amor está bem. Embora eu soubesse que, pelo que os homens julgam, Don Juan iria direto ao inferno.
Louca. Desvairada. Eu queria-o de volta. Foram anos de busca. Até que um dia recebi uma carta. O carteiro era um velho baixinho que usava óculos e atendia por nome de “Chico”. Na hora não acreditei. O remetente era “Anjomonstro”. Achei que fosse trote, mas abri a carta em velocidade de loucura. Era dele. Don Juan escreveu-me depois de morto. E em três palavras acalmou minha loucura. As três palavras mais lindas e dignas do amor. Aquelas que qualquer outro apaixonado, em meu lugar, queria ouvir ou receber por carta. Aquelas três palavras indignas dos loucos e dos pobres de espírito. Aquelas três palavras bem-ditas e benditas. Sim. Eram elas. As três palavras:
“Morra você também.”