“O amor é a força que move meu corpo. Nada sou sem amor. – Se o ódio me habita, torna-me desumana. E a humanidade talvez seja isto: desumanidade.“
Era um pôr-do-sol daqueles brilhantes, e ele insistia em andar na direção do sol. Meus olhos não agüentariam por muito tempo, eu teria que fechá-los. A dor foi mais forte, pensei. – E hoje tenho a certeza de que estava errada. Eu fui mais forte, porque pude esperar.
Esperei por todos os detalhes daquele coração. Como se tivesse sido feito para mim. E teci todas as memórias dos erros passados, como se fossem lições para a vida inteira. Nenhum mandamento de Deus falou por si, eu tive que experimentar o pecado e a dor que vem dele. Eu tive que me jogar contra a maré e tentar alcançar as nuvens com as mãos. Fazer o [im]possível.
Fazer aquilo que eu não me diria capaz. Tive que sofrer, chorar, e manter-me parada. Calei-me diante da partida de meu corpo. Fiz-me pecadora, mesmo sem provar da hóstia.
O destino foi traiçoeiro. Eu tive que aceitá-lo.
O coração partiu-se em dois. Eu tive que fazê-lo bater ainda assim.
O caminho trouxe-me encruzilhadas. Eu tive que fazer minha escolhas.
As escolhas nem sempre foram certas. Eu tive que aceitar o triunfo e a derrota.
E a única coisa que eu soube fazer foi pintar os lábios de vermelho. Perdi a calma. Agi por impulso. Fui desumana e odiei aquilo que eu amava. Odeio aquilo que fui. E hoje sei que nunca saberei o que sou. O que sou é incerto. A certeza me abomina. O subestimado me atrai. E a canção quer sempre se renovar...
“Cubra-se de ouro”, disse o rei. “Dai-me as moedas”, pediu o escravo. E eu nunca saberei a gramática corretamente. – Só entendo uma língua: a do meu coração.
As mulheres vagabundas dizem-se feministas. O feminismo não é ter vários homens. O feminismo é não depender de nenhum. – Há grande diferença.
As crianças falam sobre sexo. O sexo não lembra mais o amor. O sexo virou sacanagem. E o amor virou mentira. – Nada sobrevive.
O mundo quebra-se ao meio. Terremotos. Furacões. Frio no lugar do calor. Calor no lugar do frio. – O caos.
E eu só queria me esconder da vida. Mas não pude. – Dizem que o sorriso deve aparecer no rosto, de qualquer maneira. E eu odeio falsidade.
A honestidade é proclamada por quem trai. A traição é julgada por quem erra. O erro é amar. – Os loucos amam. Os sábios julgam. – E julgar não é mais pecado.
Eu tenho medo do mundo lá fora. O mundo lá fora quer ter minha coragem. Minha coragem quer você de volta.
Eu não conheço concordâncias. Eu não sei não me contradizer. Qualquer amor que me dê atenção, poderá me fazer feliz.
Felicidade é simples.
Meus olhos são fracos e pareço enxergar mais do que devo. Observar – nunca foi tão ruim. Ter atenção é desconfiar. E cobram-me confiança num mundo de pessoas falsas.
O poético é bizarro. A personalidade se vai com a moda. Tudo acaba em questão de minutos, e dali um minuto: – nada faz sentido.
Eu chamo isto de “pobreza”. Mas quem sou eu para criticar?, penso.
Meus olhos não podem alcançar o sol. Minhas mãos não podem avistá-lo. Estou tão longe... Sinto tantas saudades! E tenho de me manter viva.
Vivo em palavras.
4 comentários:
absurdamente verdadeiro... Há muito conhecimento do sábio Jack Sparrow aqui... rs... parabéns pelo texto e pelo sentido
tem algo no que você escreve que me assusta. e tem algo que me acalma.
mantenha-se viva.
viva em palavras.
as palavras são a pulsação dos meus não-dizeres...
lindo, viu.
muito bom!
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