Respeite o tempo. Possivelmente eu mudei de opinião.

sábado, março 16, 2013

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"Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria que fossem inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir." 

 Ana Cláudia Saldanha Jácomo, 1990

O AMOR

 Anota:
 O amor é o agradecimento.

Querido amigo, 
que ainda sofro a falta dela é fato de pura verdade e sem exageros. Perder o amor é como perder a vida. A saudade é o ponto final do amor. Somente quando o amor não pode mais ser vivido é que a saudade entra em cena. A única contradição é que a saudade nunca é um ponto final, é sempre uma reticência. 
Eu entendo que aquele que nos criou quer de nós poucas coisas. A continuidade do amor é uma delas. Continuar o amor é terminar as mágoas, é correr o risco, é não apagar a simpatia pela vida. Ainda que o término tenha sido doloroso, é de caráter bom aquele que consegue deixar o bem-estar do amor prevalecer. O amor exige que o fim não celebre o ódio e a amargura. 
Catarina me deixou faz tanto tempo que tenho que lhe confessar algo: hoje, não posso mais vê-la em minha vida. É como se não houvesse mais espaço para ela, não porque não a amo mais, mas porque a continuação após sua morte me trouxe benefícios. É claro que eu gostaria que ela pudesse ver o que me tornei, pois tenho a certeza de que iria se orgulhar do homem que sou. No entanto, sei que muito do meu processo de transformação é devido a sua partida. 
Não que a sua ida não tenha me causado dor. Pelo contrário, a maior tristeza de minha vida foi perder minha bem amada. Mas a superação, a persistência em prosseguir e a maturidade como consequência, foi-me um presente. Um homem sabe o quanto é bonito estar vivo após um naufrágio. Eu, que sempre duvidei do destino, às vezes acredito que era o meu destino passar por tudo que passei. 
É então que entendo o amor não como a parte física, e, sim, como a parte espiritual. A parte que fica, mesmo que tudo se vá. A parte que persiste mesmo que não haja motivos. A parte inacabável que já teve um fim. O sentimento mais poderoso que um homem pode possuir. Algo que, muitas vezes, é assustador. E, sobretudo, tem beleza inigualável. O amor é para sempre. 
E o “sempre” é tão perigoso! Mas veja bem, – tu –, meu amigo, consegues ver a tua vida sem os amores que amou? Sei bem que já tiveste umas três ou quatro namoradas... Consegues te imaginar sem elas? É que mesmo que não tenham sido amor, aquele amor, elas fizeram parte de ti. Elas levam um cantinho do teu coração. Elas lhe construíram e lapidaram. Foi o amor delas que fez cada partezinha do seu corpo, do seu mundo, da sua história. Porque é o amor que nos faz. – E ainda que não façam mais parte do teu cotidiano, elas fazem parte do teu amor. 
Por isso é que é impossível deixar de amar. O “desamor” não existe. O tempo se vai, a vida se altera, nós nos tornamos outras pessoas, mas aquele amor é para sempre. Ele vive naquele pedaço da nossa história que nós deixamos para trás. É presente na saudade do tempo em que éramos jovens e sem preocupações. É eterno. É lembrado nos reencontros e suspiros da lembrança. Não acaba; porque se acaba, não era amor.
Amor, qualquer tipo de amor. É para sempre. O amor de minha falecida mãe, de meu falecido pai, de minha falecida nora, de meus filhos, de meus netos e, o amor de minha vida, minha eterna Catarina. Não possui fim. Faz parte da trajetória do meu ser. Ocupa as arestas do meu coração. E me enche de saudades. 
É... Catarina... sim, Catarina. Que tantos nomes já levou! Que está presente nas mais doces palavras de minha literatura. Que me escuta em seu silêncio eterno e que tem de mim o que ninguém mais terá: aquele tempo de amor. Amor ingênuo e juvenil, bonito, cheio de fé, que me garantiu inúmeros parágrafos de versos coloridos e que me trouxe o perfume das flores com olhos cheios d’água. É Catarina de Chico, dos velhos tempos, da velha guarda, daquela bossa nova. É Catarina, de Chico, de amor. 
Ah! Meu velho amigo! Já paraste para pensar quantas histórias o amor já criou? Inúmeras, meu caro. Inúmeras! Histórias lindas, algumas de certa tristeza, mas todas com o mesmo objetivo: enviar amor. Enviar amor é tão generoso. Os poetas, músicos, compositores, cantores, atores e todos aqueles envolvidos nesta arte de interpretar, sabem bem o que é enviar amor. 
Enviar amor na música, na palavra, na melodia, num olhar. Sabia que há pessoas que se alimentam disso? Desse amor que é enviado? É sim, meu amigo. Certa vez, conheci uma senhora, em um hospital, que se alimentara do amor que era enviado à ela por meio das histórias que lera. Não teve filhos, nem marido, poucos amigos, mais muito amor. Amor nas linhas daquelas palavras. Amor forte e esperançoso. 
Também há aqueles que se alimentam do amor da fé, do criador, da vida. E aqueles que se alimentam do amor enamorado de poder ter alguém com quem compartilhar os domingos. Benditos sejam aqueles que podem ter com quem dividir a cama nos dias chuvosos. Pois bem sabemos o quão é difícil nos aquecermos com o cobertor e não com o calor da pessoa amada. 
E, finalmente, o amor é o agradecimento. Sou profundamente grato por todo o amor que Catarina me enviou e por todo o amor que ela permitiu que eu a enviasse. A gratidão é fundamental diante do amor. Só podemos amar aqueles que nós podemos agradecer algo. Eu agradeço Catarina por toda a minha vida. E agradeço também aos meus pais, filhos e amigos. 
Agradeço a você, meu amigo, por me deixar enviar amor diante dessas correspondências. Agradeço por sua amizade. E agradeço pelo seu amor. Obrigado. Obrigado por ocupar uma aresta de meu coração. 
Peço apenas que você possa agradecer a todos que preenchem o vosso coração de maneira singela e ainda bonita. E que toda esta gratidão se torne o objetivo de todo o processo: a paz. Porque amor, meu amigo, é sentir-se em paz. 

Com muito amor, 
Chico.

segunda-feira, março 11, 2013

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"Aquele que conhece os outros é sábio, 
Aquele que conhece a si mesmo é iluminado. 
Aquele que vence os outros é forte, 
Aquele que vence a si mesmo é poderoso. 
Aquele que conhece a alegria é rico, 
Aquele que conserva o seu caminho tem vontade. 

Seja humilde, e permanecerás íntegro. 
Curva-te, e permanecerás ereto. 
Esvazia-te, e permanecerás repleto. 
Gasta-te, e permanecerás novo. 

O sábio não se exibe, e por isso brilha. 
Ele não se faz notar, e por isso é notado.
Ele não se elogia, e por isso tem mérito. 
E, porque não está competindo, 
ninguém no mundo pode competir com ele." 

Lao Tsé, Tao Te Ching

A MATURIDADE

Anota:
A maturidade exige o nosso bem estar.

Querido amigo,
tens razão. A parte mais encantadora é desconhecer. O tempo, a fé, as mudanças e os acontecimentos da vida, como a morte, podem nos trazer um dos benefícios mais belos que a existência nos permite: a maturidade. Tornar-se maduro é um processo longo e, muitas vezes, doloroso. É preciso coragem para perder velhos hábitos, palavreado e limitações. A maturidade não necessita que sejamos mais sérios. Amadurecer é desapegar.
Há coisas que não me preocupam mais. Quando era jovem, eu achara que precisara me impor. Tinha sede em ser admirado. Eu tivera fé que para me mostrar inteligente, eu precisara apontar defeitos. E que sendo um observador eu pudera ser superior às pessoas que eu rotulara como “tolas”. Tolo era eu. As minhas observações eram, em realidade, olhos cegos. Eu fizera as comparações erradas. Eu lutara por igualdade, porém os caminhos eram desiguais. Não é boa pessoa aquela que precisa demonstrar a sua sabedoria. Os sábios não desejam se destacar e, por isso, se destacam.
Perdi. Perdi a preocupação com pessoas que não seguem as mesmas regras que eu. A aceitação de costumes e pensamentos é o primeiro passo para amadurecer. O segundo passo é poder gostar de alguém pela maneira com que nos trata e não pela maneira com que anda. Catarina me tratara bem... Ah! Como Catarina tivera uma importância enorme em meu processo de amadurecimento! O amor, meu querido, tem o poder de acelerar todo o processo.
Todas as tardes, antes da novela, eu caminho pela cidade. E, ontem, durante o meu exercício, escutei uma jovem falando sobre o reality show global, Big Brother Brasil. Me chamou atenção porque quando tivera a idade da moça, eu era igual: crítico. Crítico com as coisas erradas. Assistir um programa de televisão não lhe torna mais burro, nem mais inteligente. São poucas coisas na vida que podem lhe trazer sabedoria, uma delas, é a experiência. Assistir não é aprender. Por isso o erro é tão importante. O erro é o instrumento que podemos utilizar para que possamos nos entender, nos modificar, prosseguir.
Eu criticara o carnaval, a música, as pessoas que usavam roupas coloridas e tinham comportamento exagerado, no entanto, hoje não posso mais fazê-lo. Há criticas que não precisam ser expostas, pois delas nada será construído.
Discutir sobre política é necessário, arrumar briga pelo comentário sobre o futebol da quarta-feira é fútil. Assistir um filme pode ser divertido, ler um livro pode ser confortável, falar palavrões pode ser normal, mas o julgamento não é peça fundamental da maturidade.
A maturidade nos permite a despreocupação com gestos bobos. Já não faz mais sentido sair arrumado todos os dias para comprar pão. Hoje, por exemplo, só penteio o cabelo quando possuo vontade. Os copos sujos da pia são limpos sem reclamações. A naturalidade das coisas é nítida. O amor é sério. As pessoas que não me tranquilizam, foram deixadas de lado. E os compromissos são firmados com cautela.
No entanto, este é um trecho perigoso. A maturidade não é comodismo, como pode parecer nesta carta. A maturidade é focar-se nas coisas certas. É força e aceitação. É despreocupar-se com a superfície a aprofundar a vida em nossos objetivos. O trabalho é a ferramenta fundamental do nosso amadurecimento.
Somente o trabalho pode nos trazer o mérito. É o trabalho que conduz o homem a tornar-se melhor. O sacrifício é que pode orgulhar alguém por não ter desistido na parte dolorosa da caminhada. A beleza dos acontecimentos está no entendimento de que os obstáculos fazem parte do processo. Aceitar e entregar-se a vida está muito próximo do final da corrida.  
O segredo é não deixar que o cérebro envelheça. Fazer contas, trabalhar, praticar exercícios, manter-se disposto, nos alimentar bem, escutar música e poder sorrir, são formas de evitar a morbidez cerebral. A maturidade exige o nosso bem estar.
Ser maduro não possui relação com o envelhecimento. Eu mesmo, meu amigo, tenho corpo de sessenta e mente de mil anos. A questão é: desenvolver a mente mais que o próprio Einstein.

Como fruto maduro,
Chico.