"Não, rapaz. Esta moça não sou eu. Eu não tenho traumas. Não tenho uma história triste para lhe contar e, se puder seguir ao meu lado, tens que sustentar a ideia de conviver com quem sorri de tudo. Não falo sério e nem corro riscos. Não nado contra a correnteza, eu flutuo com ela. Eu sento no banquinho em baixo da palmeira e observo o movimento das pessoas sem me preocupar com os horários. Estou sempre atrasada e não planejo um futuro. Eu vou indo...".
Há pessoas de todos os tipos. Encontramos algumas que nos fazem bem e outras nem tanto. Já me deparei com quem se apaixona fácil, com quem está sempre preocupado com o trabalho, com quem não tem tempo para sentar no barzinho às quintas, com quem sempre está com o tempo livre e com quem tem medo de se relacionar. Essa última sempre foi o meu maior medo. Não porque eu procuro alguém que queira um relacionamento, mas porque eu achei por muito que eu fosse uma delas. Não era.
Nunca tive medo de relações. Não temo a ideia de manter laços. Acho bonito encontrar amigos e amores com quem podemos conviver e compartilhar não só nossas dores, como também nossos momentos felizes. Dividir domingos. Marcar um encontro para colocar o papo em dia ou ir ao cinema. Andar de mãos dadas. Discutir sobre política e respeitar a decisão de que “já é tarde, tenho que ir embora”. É linda a simplicidade das relações. E ela me encanta.
No entanto, não é fácil ceder. Não é tão simples abrir um espaço para que alguém possa entrar sem bater na porta. Não é como regar flores todas as manhãs. É preciso muito mais que água e temperatura ambiente para que esta árvore dê frutos. Exige-se empenho. Sacrifício mútuo para o benefício de ambas as partes. Não é só deixar a porta encostada, temos que confiar a chave da fechadura.
Eu não guardo o medo de entregar as chaves. Eu não temo a ideia de não encontrar alguém, eu temo a ideia de que, ao encontrar, essa pessoa não cuide da chave, nem da porta. Eu tenho medo de não ser amada. De passar uma vida ao lado de alguém e, no final, não me sentir amada. Eu aguentaria um casamento de altos e baixos, aguentaria a infidelidade, aguentaria vê-lo indo embora, mas não suportaria a ideia de que meu companheiro não me amou. – Não suportaria a decepção sobre a única coisa da qual eu sei escrever: amor.
Vivemos para entregar pedacinhos de nós às outras pessoas. Nós somos todos os pedacinhos que já recebemos. Eu tenho um pouco do João, da Maria e do Carlinhos, e você vai ter um pouquinho de mim. As transformações do que somos vão acontecendo conforme as relações que mantemos. E quantas dessas relações nós podemos dizer que são especiais? Nem sempre nós somos especiais, já diria o poeta “às vezes nós só estamos preenchendo lacunas”.
Eu não quero preencher o espaço vazio de ninguém. Não quero ter a ideia de que estou aqui só para não terminar sozinha. Eu quero encantos. E é por isso que eu vou deixando a porta encostada... Uma hora alguém leva a chave. Mas que a carregue por vontade própria e que segure-a para não perde-la por aí, porque não farei cópias e, apesar de estar aqui sentada, o tempo me custa caro.