"Com as mãos cheirando à alho e as maçãs do rosto úmidas pelo rastro das lágrimas, a moça se perguntara incansavelmente: “Para onde irá o amor quando há a separação?”. Ah, menina! Deve haver algum lugar onde o amor é preso. Uma caixinha ou uma gaveta. Algo mágico que o faz desaparecer, sem mapas misteriosos ou dicas em tabuleiros. Aqui, ali e em todos os lugares, há de existir algum lugar para onde vai o amor quando os corpos se separam.".
Vez ou outra, encontramos estampado em um outdoor ou destacado em um livro: “a vida continua”, e, apesar da indicação, às vezes somos pegos de surpresa – a vida não se interrompeu, ela prosseguiu. “Eu sobrevivi!” – é uma frase reconfortante e dela vem a crença de que a partir de agora tudo será bom. Talvez o que ninguém nos explicou é que a vida continua, no entanto o vazio dentro do peito persiste. Ele desaparece, volta, some, ressurge... Ele nos revela: Estamos vivos, mas não tão vivos assim.
A maioria das pessoas acredita que estar vivo é acordar todas as manhãs, ir para o trabalho, voltar para a casa, cumprir as nossas metas. Nos fizeram acreditar que se nós tentássemos, hora ou outra, nos acostumaríamos e isso seria o mais perto da tão estimada vida perfeita. Então um ponto importante: você vive ou se acostuma? Nós nos sentimos confortáveis com os nossos empregos, a escolhida faculdade e o parceiro inteligente, porém ao encostarmos a cabeça no travesseiro, é impossível fugir do vazio no peito que nós evitamos durante o dia.
Nós continuamos as nossas vidas evitando discutir as nossas insatisfações. Perdemos um amor e continuamos vivendo, e continuamos amando. Não há um intervalo para deixar de amar ou resolver os nossos problemas. Aquele sonho que não realizamos? O tempo passou, mas o sonho não se desfez, ele agora faz parte das coisas que nós evitamos pensar. – A vida continua e nessa da vida continuar, se não lutarmos pelas nossas paixões, nós nos tornarmos um mar sem ondas. Funciona como um coma – nós continuamos respirando, através de aparelhos, sobretudo, imóveis.
É possível estarmos cheios de esperança e, ainda assim, parados. Ter paixões escondidas, arrependimentos que nos sufocam, grandes saudades e tristezas, mas não fazermos nada a respeito. Deixar nas mãos do tempo e esperar que a ferida cure é um risco que corremos, às vezes necessário, noutras vezes, irremediável. – Muitas pessoas já nos disseram que nós não podemos ter tudo o que desejamos, mas eu acredito que nós podemos fazer algo por tudo o que desejamos. – Não se trata de conseguir, trata-se de tentar. São as tentativas que fazem nos sentir mais vivos!
Eu tenho prestado demasiada atenção em pessoas que viveram quarenta, cinquenta, sessenta anos e, em suas faces, carregam a expressão do inacabado, do não vivido. Há um senhor que me confessou nunca ter realizado o tão sonhado “rolê pela Europa”. Entusiasmada com a gíria, eu o questionei: “E por que não o fez?” ao que ele me respondeu: “Eu me acostumei”. Esse senhor cursou mestrado, tem esposa, quatro filhos e completou: “Por sorte eu tive uma trajetória alegre”. – Se tivermos sorte...
“A vida continua” são três palavras que consolam quando tudo parece se perder. Porquanto há ressalvas: a vida continua, mas temos que tomar o cuidado para que ela seja bonita. Não conte com a sorte para continuar. Viva! Certifique-se de que viver seja pontuado com uma exclamação. – Às vezes um simples “oi” basta. “Oi, vida!”.
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