Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

terça-feira, abril 21, 2020

A TRISTEZA É UM INTERVALO

Tudo o que acontece em nossas vidas tem a intensidade, e a importância, que nós concedemos. Não estamos no controle dos acontecimentos, mas estamos no controle das nossas emoções. – Se você não pode mudar o que aconteceu, tente mudar a forma com que você se sente sobre isso.



É que sou profunda, entende? Eu escuto Caetano, me apego a literatura, vou ao cinema e me conecto a sensibilidade de cada pedaço da arte que contemplei. Faço reflexões sobre a vida e o significado da existência. Estou nesse lugar para sentir e sinto muito. Sinto um bocado!

Respeito a escolha de quem não pretende mergulhar, de quem ignora a imensidão das coisas, de quem é raso. Mas eu estou nesse mundo para ir a fundo. Na mais pura e, ao mesmo tempo, perigosa submersão de descobrir aquilo que está nas entrelinhas e aquilo que não é visível a olho-nu.

Nós precisamos limpar o campo de visão para perceber o que não se enxerga facilmente. Se entregar aos devaneios e pensar sobre isso até esgotar as hipóteses. Pois a vida é um caleidoscópio que nos fornece os mais recreativos efeitos visuais (muitas vezes, não simétricos).

Ah! Trata-se de um emaranhado de oportunidades... Nós temos tanto a experimentar! Do simples ao extravagante, deve-se viver cada um com intensidade. E, em todos os aspectos possíveis, sentir os prazeres da alegria e os dissabores da tristeza.

Ora! Sei que Chico clamou que, quem inventou a tristeza, deve ter a fineza de desinventar. – Mas, sabendo que a tristeza é um intervalo entre duas felicidades, como não conhecer por inteiro a melancolia? – Tem que sentir...

Sentir mesmo, sabe? Chorar um dramalhão no tapete da sala e depois recuar sabendo que foi exagero. É mais sobre expulsar os demônios com brevidade do que sobre vivê-los para sempre.

Porque, se você não se permitir a tristeza, guardará consigo o sentimento que a despertou. E vai viver e reviver por tempos... Então, entregue-se.

Não precisa sentir de uma única forma. Há a possibilidade de se trancar no quarto e contemplar o silêncio, mas também podemos sair e escutar música. Você escolhe a melhor maneira de fazer isso doer dentro de você.

Você escolhe se é por uma hora, por um dia ou por uma semana. Se dê ao privilégio de consumir isso pelo tempo que for necessário. Encare como uma limpeza. E, por favor, não feche o coração.

O coração tem que estar aberto para perceber que, apesar dos acontecimentos inexplicáveis da vida, ainda há flores na borda da estrada, ainda há cheiro de chuva e café quente esperando por nós. Você nota o funcionamento disso tudo? São as pequenas coisas, rapaz. Sempre foram as pequenas coisas que importaram.

São os pequenos gestos que demonstram amor e, num amontoado de pequenas coisas, temos a imensidão de um sentimento transformador. – Afinal, estamos aqui para isso, não é? Por amor. Para amar.

É... É que sou profunda. Não vim ao mundo para fechar a conta daquilo que está pré-estabelecido. Estou aqui para trocar os fatores, experimentar o barulho e absorver o que for bonito. Tenho a sensação de que vou tocar a alma, esquecendo a matéria e mergulhando nas possibilidades de sentir. Sentindo.

Repito: Estou nesse lugar para sentir e sinto muito por quem não sente. Me desculpo com a vida por quem é raso. Pois viver demanda da mais intrínseca profundidade. E, até que se prove o contrário, se vive uma única vez.

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