Respeite o tempo. Talvez eu tenha mudado de opinião.

terça-feira, abril 14, 2020

DECLARO A [MINHA] CULPA


É errado crer que mereço o seu amor? Mais que isso, estou errando ao acreditar que você merece o meu? Eu gostaria de me sentar confortavelmente em uma cadeira, fechar os olhos e me deixar sonhar... Me apetece deixar esse sentimento em liberdade, soltá-lo na frequência em que o meu coração se permitir e respirar profunda e lindamente a oportunidade de amar.

Eu não estou confortável, porque eu despertei esse sentimento sem a sua permissão. Fui eu que abri as portas do meu coração para que você pudesse entrar. Você entrou, coube – em estado perfeito – no espaço que lhe destinei e permaneceu acolhido durante meses. Mas você nunca perguntou, nunca quis estar ali e nunca pretendeu ficar.

Em completa solidão eu cultivei o que inventei. De longe, observei cada detalhe do seu corpo, respeitei a sua pele e respirei o cheiro de cada um dos seus passos. Eu admirei o que você era e a sua trajetória. Carinhosamente aceitei que a sua família recebesse o meu afeto. E, em estado de urgência, acreditei que conhecia cada pedaço do seu coração.

Preciso confessar que a responsabilidade é minha. Eu quis te amar. Eu cuidei para que isso acontecesse, mesmo sabendo que você nunca combinaria com as minhas crenças ou com aquilo que pretendo preservar. Vagarosamente eu supliquei para que esse amor se concretizasse dentro de mim, porque eu estava em completo desespero.

Não me julgue equivocadamente. Eu não esperava a companhia de alguém. Eu esperava sentir... Há tantos anos que esses sentimentos estavam adormecidos que, por algum tempo, acreditei que eu não fosse mais capaz. – Por isso, sou grata pela sua chegada.

Você chegou repentinamente e me encantou sem aparentes esforços. Então, mesmo que por um breve momento, eu libertei o meu coração para sentir tudo o que ele pudesse. E me surpreendi com a capacidade dos meus sentimentos. Ah! Se você soubesse o que lhe desejo...

Às vezes sinto que deveria gritar para que você me escute. E para que escute o mundo ao seu redor. – Entretanto, isso não seria trapacear? – Racionalmente sei que não posso intervir em seu caminho, porque você não emite nenhum sinal de que espera que eu lhe peça para parar. E não posso ser egoísta, pois sinto que não consigo ser.

Necessito deixar que você seja incrivelmente feliz e que essa felicidade seja devotada a quem você desejar por perto. É que eu estarei longe... Tão distante que talvez você se esqueça do meu perfume, se esqueça do batom que eu escolhi e se esqueça que me conheceu. Provavelmente você nunca mais se lembrará – e eu aceito essa condição.

Aceito te amar sozinha, aceito te amar em afastamento e aceito te amar pelo tempo em que o meu corpo impor que devo. Pois não lhe falta razão ao delegar a responsabilidade sobre mim. É assertivo ao declarar que a culpa desse amor é inteiramente minha.

E como a culpa poderia ser sua? Você perambulou por tantos lugares e por tanto tempo, mas nunca se dignou a conhecer o amor. – És espiritualmente imaturo. – Assim como uma criança que, fora da escola, desconhece a necessidade de ser alfabetizada, você permanece em completa ignorância do que é o amor e de tudo o que o amor poderia transformar em sua vida.

Lamento não permanecer para lhe explicar as voltas que o coração pode percorrer. É que, tudo o que experimentei, me fez acreditar que o amor não nos concede tempo. Ninguém possui tempo para viver o que não é recíproco. E, se não há reciprocidade, o ideal é não insistir e se afastar.

Então, em tom de confissão, eu declaro o meu amor e a culpa pela criação desse sentimento. Mas não posso me desculpar por acreditar que você é capaz de amar, mesmo que não o faça nesse momento. Pois não. Não é errado ter fé em alguém. E tenho tanta fé em você que acredito, fielmente, que – ainda nessa vida – você será a vida de alguém. Que sorte a dela!